Crise chega às agências noticiosas com redução de efectivos

A Reuters anunciou, internamente, uma grande reorganização das suas delegações europeias. Segundo Le Monde, que aqui citamos, vão ser suprimidos, na Itália, 16 postos de jornalistas (de um total de 45), e estão em risco, na Alemanha, dez de 120.
A delegação em Paris, com 75 jornalistas, não é por enquanto afectada, “mas tudo leva a crer que será a seguinte” - diz um dos seus redactores. O plano da Reuters é desenvolver mais os efectivos do seu centro em Gdynia, na Polónia, onde, como no de Bangalore, no sul da Índia, os jornalistas produzem sobretudo pequenos boletins financeiros em língua inglesa.
A intenção declarada é de “deixar mais tempo aos repórteres das delegações para trabalharem sobre informações exclusivas”; mas um delegado sindical, em Paris, explica que se trata de “uma lógica de deslocalização para recorrer a mão-de-obra barata”.
No caso da France-Presse, foi pedido ao Estado, para financiar as indemnizações, um apoio de 17 milhões de euros, no quadro dos fundos para transformação da acção pública. Mas o administrador-executivo, Fabrice Fries, declara ter sido informado de que, “não sendo a AFP uma empresa pública, não era elegível para este efeito”, e não exclui a possibilidade de pôr à venda o histórico edifício-sede da agência, na Praça da Bolsa, em Paris.
A receita comercial da AFP perdeu cerca de dez milhões de euros, desde 2014, e vai registar em 2018 o quinto ano seguido de défice. “Quando já não têm meios para continuarem a pagar a assinatura da Agência, os media rescindem o contrato, ou então renegociam em baixa” - explica Philippe Faye, representante do pessoal no conselho de administração.
A situação é menos grave na Reuters, mas o seu volume de negócios baixou 4% no terceiro trimestre.
Nesta altura em que estão em debate os contornos da directiva europeia sobre direitos de autor, em Bruxelas, também as agências se perfilam como possíveis beneficiárias deste “maná” financeiro.
Fabrice Fries declara que “têm legitimidade para serem incluídas no perímetro dos media remunerados pela Google e o Facebook pelos seus conteúdos, e são apoiadas pelos editores neste combate comum”, mas reconhece que o benefício, para as agências, virá de modo “idirecto”, em comparação com os editores seus clientes.