Compram-se jornais como quem compra clubes de futebol – disse Robert Picard na Universidade Católica
Na ausência do conteúdo da conferência que proferiu, citamos as declarações que prestou à Agência Lusa, divulgadas em vários jornais.
Robert Picard, considerado um especialista em economia e gestão dos media, bem como nos desafios que os meios de comunicação estão a enfrentar na era digital, disse que “a mudança na propriedade dos media, que trouxe novos proprietários, sobretudo estrangeiros, é uma situação ‘sempre um pouco perigosa’."
"Um jornal estar a expressar questões políticas do dia no país, e ter empresas estrangeiras a influenciar isso pode ser perigoso. Não sei a extensão do que fizeram ou não [esses novos proprietários]. Não ouvi que tenha sido horrenda esta prática. Mas sabemos que muitos estão a olhar para outro lado, porque não conseguiram o crescimento que queriam ou o benefício pessoal dessa propriedade" - disse ainda.
Sobre a Informação como serviço público, considerou que "é necessário em todas as sociedades", mas destacou que o acento tónico recai sobre "como fornecê-lo" e deixou uma palavra sobre o nosso País:
"Ninguém vai cobrir Portugal e os países de língua portuguesa como a agência de notícias portuguesa, nunca acontecerá. A Reuters não o fará, a Bloomberg não o fará, a EFE não o fará, ninguém o fará, há uma razão para ter serviço público. Algumas nações percebem isso e dão apoio financeiro para a operação noticiosa" - disse, acrescentando que muitas pessoas pensam agora que deviam existir outros mecanismos para dar apoio para fazer o jornalismo local ou outro tipo de jornalismo doméstico.
"Você tem de salvar as actuais organizações de notícias ou pode criar outras novas? Um dos problemas dos subsídios foi preservar formas de organização e despesas que foram muito elevadas e pouco apropriadas, que não melhoraram a qualidade das notícias e aquilo em que a sociedade devia estar interessada."
Sobre o fenómeno dos novos interessados na propriedade dos media, Robert Picard deixou as suas próprias interrogações quanto aos motivos de cada interveniente:
"As pessoas que o faziam apenas com objectivos lucrativos estão a sair. Por um lado, isso é muito bom, mas, por outro, a questão é a de quem é que os está a comprar. Quando olhamos para o lado e começamos a ver industriais a comprar, proprietários de empresas manufactureiras e empresas digitais a fazê-lo, começamos a perguntar: por que é que eles estão a começar a comprar?"
Para Robert Picard, esta mudança na propriedade resulta da existência de "interesses políticos, de influência na sociedade, e outros que têm interesse em servir a sociedade".
"É uma grande variedade de pessoas a entrar. Estamos a ver várias formas de propriedade não lucrativas, de fundações, é interessante, temos de ver se isso vai funcionar ou não", afirmou.
Numa outra entrevista, também à Lusa, mas anterior à conferência que fez na Universidade Católica, Robert Picard adiantou, pelo pouco que se sabia no momento:
“Vai ser um processo muito longo. Vimos isto quando foi levantado o sigilo bancário na Suíça. [Este processo] levará três a cinco anos para que as autoridades nacionais recuperem o atraso, para serem feitos pagamentos e até para a detenção de pessoas em determinados casos.”
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