O texto citado esclarece, à partida, que não se trata propriamente de as fundações preenderem dirigir a cobertura. Como afirma o editor de um dos sites nestas condições, os financiadores “sabem que o valor autêntico está no facto de sermos nós a proporcionar um jornalismo de excepcional qualidade, que é credível”: 

“Isso é valioso, porque ninguém o põe em causa... Porque, francamente, o conteúdo pago não é respeitado, é visto como um pouco manchado.” (...) 

Mas há modos, mesmo involuntários, de influenciar a agenda da reportagem. E o primeiro decorre do “processo informal de ‘namoro’, pelo qual fundações e jornalistas gradualmente se conhecem e procuram identificar áreas de interesse mútuo”. 

Uma das conseqüências não intencionais deste processo  – muitas vezes demorado –  “é que os meios noticiosos podem gastar muito tempo e recursos cultivando relações em aberto com uma variedade de representantes das fundações e, geralmente, aumentando a sua ‘visibilidade’ e ‘presença’. Isto é importante, porque pode tirar recursos do seu trabalho editorial  – levando a uma redução na produção de notícias.” 

Glendora Meikle, ex-vice-directora do IRP - International Reporting Project, afirma que a sua relutância em “gastar dinheiro para ganhar dinheiro”, em vez de “gastar dinheiro para fazer reportagem, contribuiu directamente para o fecho do IRP no início de 2018”. 

Em segundo lugar, a maioria das fundações com esta motivação exige que os meios noticiosos “forneçam evidência do impacto do seu trabalho”: 

“Mais especificamente, os media são incentivados a concentrar-se na produção de conteúdo que provavelmente será mais ‘impactante’. Em geral, isso inclui coberturas mais extensas, explicativas e fora da agenda, direccionadas a públicos de ‘nicho’, especializados, incluindo decisores políticos.” 

Finalmente, “a forma mais comum de apoio das fundações ao jornalismo internacional é a de subscreverem textos sobre áreas temáticas específicas, como o desenvolvimento global ou a escravatura moderna”. 

“No entanto, quando esse apoio temático é uma das únicas fontes de financiamento disponíveis para notícias internacionais, pode resultar em menos cobertura de outras questões que estão fora desses temas.” (...)  

Há notícia recente de que “muito mais fundações vão apoiar o jornalismo em 2019”. Mas, se isto se concretizar, “os jornalistas vão ter de considerar, não apenas como proteger a sua independência, mas também que tipos de jornalismo querem produzir”. (...)

 

O texto aqui citado, em Poder360, e o seu original em NiemanReports.  Mais informação em InsidePhilanthropy