O texto que citamos foi publicado no site Vox.com e tem por título “O ano em que as redes sociais mudaram tudo”. Indo direito ao assunto, afirma que “a maior destas distorções da realidade foi o refazer da supremacia branca e do fascismo como sendo uma legítima plataforma política moderna”. E tudo isto aconteceu “por causa da Internet, mais concretamente das redes sociais, (...) que proporcionaram aos americanos um meio para exprimirem e espalharem os seus medos mais profundos e as suas opiniões mais escuras”. 

Não se trata aqui de desculpabilizar ninguém, mas sim de responsabilizar-nos a todos. O núcleo desta reflexão assenta na necessidade de compreendermos bem os riscos dessa cultura online, que todos hoje habitamos. 

Um exemplo citado de um artigo do Guardian: se começarmos a preencher a linha para uma pesquisa na Google, à segunda palavra já o motor de busca nos está a dar seguimento para várias perguntas possíveis; e não são inocentes. A autora do estudo, Aja Romano, fez a experiência com “are bl...”, como quem vai perguntar se os negros são... (qualquer qualificativo); entre outras coisas, tais como “os buracos negros são reais?”, aparecia logo, no original, are black people evil...

O mesmo aconteceu, com mais abundância de exemplos, ao perguntar  - are Muslims evil

“É o comportamento humano  - neste caso, os padrões de pensamento racistas que levam as pessoas a fazer pesquisas racistas -  que ditam os resultados que a Google depois devolve, e que levam pesquisas inocentes como o meu ‘are bl’ a devolverem resultados horríveis.” Como foi dito no Wired, os algoritmos de busca da Google são racistas “porque a Internet é racista”. 

A Google corrigiu e apagou, neste caso concreto, por iniciativa da Vox, a frase interrogativa are black people evil, mas o processo é complicado, porque as previsões que determinam a função de completar a pergunta ainda não acabada são baseadas, no fundo, na actividade habitual e interesses manifestados pelos próprios utentes. 

Ironicamente, no caso do Facebook, foi o escrúpulo em atender os protestos segundo os quais os sites de direita estavam a ser discriminados que levou à explosão de notícias falsas... 

Havia um grupo especial de funcionários que tinham a responsabilidade de fazer a “curadoria” e a verificação do material que chegava. Mas em Maio começou uma polémica porque se soube que os temas que tinham a cobertura de sites de direita, como o Breitbart, mesmo depois de “apanhados” pelo algoritmo do Facebook, eram rejeitados a menos que fossem também cobertos por sites como os do New York Times, BBC e CNN

Resultado: em finais de Agosto o Facebook despediu essa equipa e, assim que os “curadores” humanos deixaram o edifício, “rebentou o caos” e as fakenews espalharam-se rapidamente. Nem tudo foi obra de núcleos conscientes de activistas de direita, embora eles tenham feito também a sua parte do trabalho. 

O estudo tira a moral da história citando o crítico literário Richard Seymour:

“A nova inflexão que, aparentemente, a Internet tornou possível, é a rejeição da responsabilidade moral por parte dos trolls (os brutos, ou insolentes agressivos, na gíria da ‘rede’) que se baseia numa rigorosa demarcação entre o ‘verdadeiro’ eu, offline, e o anonimato online. Eu não sou aquilo que faço, desde que o faça online.”

 

O artigo na íntegra, no site Vox.com