Como evitar a partilha de dados científicos de forma descontextualizada
Por norma, os jornalistas recorrem a estudos académicos quando pretendem escrever artigos fundamentados, que tenham por base descobertas factuais, a fim de manter os leitores informados sobre as mais recentes descobertas científicas.
Contudo, alertou Joelle Renstrom num artigo publicado no “Nieman Lab”, em situação pandémica, os “media” começaram a partilhar dados científicos de forma descontextualizada, promovendo a desinformação.
Isto aconteceu, por exemplo, com a síntese de um estudo da American Heart Association, que afirmava que as vacinas contra a covid-19 podiam causar inflamação cardíaca.
Por norma, estes resumos acompanham o estudo original. Contudo, perante a ansiedade da população devido à pandemia, este pequeno texto, de 300 palavras, foi divulgado sem qualquer outra informação complementar.
Conforme apontou Renstrom, esta síntese foi divulgada por 23 publicações noticiosas e partilhada por mais de 69 mil utilizadores do Twitter, levando a que muitos internautas começassem acreditar que as vacinas poderiam ser fatais.
Perante este cenário, a American Heart Association foi forçada a corrigir os dados divulgados, sublinhando que o resumo “podia não estar correcto”, e destacando que não havia uma ligação directa entre as vacinas e certos problemas cardíacos.
De acordo com Renstrom, isto veio ressalvar que nenhum “media” deve divulgar um resumo, sem que este seja corroborado por um estudo completo.
Junho 22
Além disso, após este incidente, os jornalistas começaram a perceber que, tal como qualquer outra fonte de informação, as descobertas científicas devem ser analisadas de forma crítica.
Até porque, desde o início da pandemia, os jornais científicos começaram a utilizar estratégias sensacionalistas, de forma a garantir uma maior retenção de leitores e, consequentemente, uma melhor sustentabilidade financeira.
Por isso mesmo, considerou a autora, é essencial que os “media” repensem o tratamento de dados científicos, começando por assumir a sua própria ignorância quanto a certas áreas de conhecimento.
Como tal, antes de divulgarem um determinado estudo, os jornalistas devem confirmar se os dados foram validados por outros cientistas, uma vez que este processo ajuda a garantir a veracidade da informação.
Por outro lado, continuou Renstrom, os investigadores devem, igualmente, assumir uma posição de maior responsabilidade, evitando publicar estudos incompletos, e melhorando as estratégias de comunicação.
Isto pode passar, por exemplo, pelo contacto directo com o público, de forma a tornar o processo científico mais transparente, e a esclarecer as dúvidas dos cidadãos.
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