Como as redes sociais “devoram” o jornalismo
“As redes sociais não devoraram apenas o jornalismo, devoraram tudo. Devoraram as campanhas políticas, os sistemas bancários, as histórias pessoais, a indústria do lazer, o comércio a retalho, até mesmo o governo e a segurança.” (...)
“O jornalismo é uma pequena actividade subsidiária do negócio principal das redes sociais, mas uma que é de interesse central para os cidadãos. A Internet e as redes sociais dão aos jornalistas meios para fazerem um trabalho poderoso, enquanto, ao mesmo tempo, contribuem para tornar o negócio da publicação do jornalismo um risco pouco compensador em termos económicos.” (...)
Emily Bell conta que, segundo uma pesquisa feita recentemente pelo Google, das mais de duas dezenas de aplicações que têm os nossos telemóveis, “nós só usamos todos os dias quatro ou cinco delas e, das que usamos, a maior fatia do nosso tempo é gasta numa rede social; ora, neste momento, o alcance do Facebook é de longe maior que o de qualquer outra plataforma social”.
“A maioria dos adultos norte-americanos são utilizadores do Facebook, e a maioria destes recolhe alguma espécie de notícias por essa via - o que significa, segundo os dados do Pew Research Center, que cerca de 40 % dos adultos nos EUA considera o Facebook uma fonte de notícias.” (...)
“A competição pela atenção dos utilizadores é feroz. Os ‘quatro cavaleiros do Apocalipse’ - Google, Facebook, Apple e Amazon (ou cinco, se acrescentarmos a Microsoft) - estão envolvidos numa guerra prolongada e abrasadora sobre quais tecnologias, quais plataformas e até mesmo quais ideologias vão vencer.”
“No ano passado, os jornalistas e as editoras descobriram-se inesperadamente beneficiários deste conflito. (...) A Snapchat lançou a sua Discover App, fornecendo canais a marcas como a Vice, BuzzFeed, o The Wall Street Journal, Cosmo e o Daily Mail. O Facebook lançou os Instant Articles, e recentemente anunciou que vão estar disponíveis a todas as editoras a partir de Abril. A Apple e o Google foram logo atrás, lançando respectivamente Apple News e Accelerated Mobile Pages. Não querendo ficar de fora, o Twitter lançou também os seus Moments, um agregado de assuntos mais em foco na plataforma, para contar histórias completas sobre eventos.”
“É muito bom - adianta Emily Bell - que estas empresas de plataformas cheias de recursos estejam a produzir sistemas que distribuem notícias. Mas por cada porta que se abre, há outra que se fecha. Ao mesmo tempo que as editoras estão a ser atraídas a publicar directamente nas aplicações e novos sistemas, que lhes permitirão alargar rapidamente as suas audiências nos aparelhos móveis, a Apple anunciou que vai permitir que se faça, a partir das suas aplicações, o download de software bloqueador de anúncios.” (...)
A autora passa, então, a reflectir sobre que defesas têm as editoras neste contexto, e descreve três saídas possíveis: ou canalizam cada vez mais os seus conteúdos jornalísticos para uma aplicação como os Instant Articles do Facebook, onde o bloqueio de anúncios não é impossível, mas é mais difícil; ou aceitam reduzir a sua audiência e fixar-se nos assinantes, onde a identidade da ‘marca’ é apelativa, mas pode não ser suficiente para que a publicidade torne o produto rentável; ou então inclui uma publicidade que não parece publicidade, e desse modo não é detectada pelos bloqueadores, que é hoje conhecida como native advertising, e já cresceu até tomar um quarto de toda a publicidade digital nos Estados Unidos.
Mas Emily Bell explica com exemplos concretos de que modo qualquer destas “soluções” tem os seus limites e pode mesmo tornar-se contraproducente.
A questão de fundo é a do destino e da distribuição. As editoras que cedem à tentação de apostar tudo nas plataformas de distribuição maciça “perdem o controlo da sua relação com os leitores ou espectadores, com os seus ganhos e até mesmo com o caminho que os conteúdos tomam para alcançar os seus destinos”. (...)
“Nós estamos a entregar o controlo de partes importantes das nossas vidas públicas e privadas a um número muito reduzido de pessoas, que não foram eleitas nem podemos responsabilizar. Precisamos de regulação, para termos a certeza de que todos os cidadãos têm igual acesso às redes de oportunidade e serviços de que necessitam. Também precisamos de saber que toda a palavra e expressão públicas serão tratadas de modo transparente, mesmo se não puderem ser tratadas igualmente. Trata-se de um requerimento básico para uma democracia que funcione.” (...)
Mais informação no texto original de Emily Bell