Trata-se, no fundo, de uma relação de forças ainda não resolvida, em que as empresas noticiosas e as plataformas a que recorrem não têm exactamente os mesmos interesses. Os meios de comunicação já não podem dispensar as plataformas das redes sociais, porque é lá que se encontra o público que procuram atingir. Mas estas, por seu lado, não têm o jornalismo como prioridade, mas sim como um entre muitos outros “conteúdos” que distribuem. 

A síntese agora assinada por Miriam Garcimartin, em Media-tics, refere-se a um texto original de Emily Bell e Taylor Owen, publicado em finais de Março na Columbia Journalism Review, com o título The Platform Press: How Silicon Valley reengineered journalism. Este extenso trabalho recolhe dados de um estudo em curso pelo Tow Center for Digital Journalism, da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, cujas principais conclusões resumimos, aqui, do original:

  1. – As plataformas tecnológicas tornaram-se editoras num curto espaço de tempo, deixando as empresas noticiosas confusas quanto ao seu próprio futuro. (...)
  2. – A competição entre as plataformas, para divulgarem produtos às editoras, ajuda as redacções a atingirem maiores audiências do que nunca. Mas é difícil avaliar as vantagens de cada plataforma, e o retorno do investimento é inadequado. (...)
  3. – A influência das plataformas sociais está a moldar o próprio jornalismo. Ao oferecerem, às empresas noticiosas, incentivos por determinados tipos de conteúdo, (...) as plataformas são explicitamente editoriais.
  4. – As revelações sobre fakenews, durante as eleições de 2016, obrigaram as plataformas sociais a assumir maior responsabilidade por decisões de publicação. (...) Mas o jornalismo de elevado valor cívico  - o que investiga o poder, ou chega às comunidades locais e mal servidas -  é discriminado por um sistema que favorece a escala e a possibilidade de partilha.
  5. – As plataformas assentam nos algoritmos (...) mas as nuances do jornalismo requerem um juízo editorial, pelo que terão de reconsiderar a sua abordagem.
  6. – É necessária uma maior transparência e responsabilização por parte das empresas das plataformas. (...) As editoras estão a produzir mais conteúdos do que nunca, sem saberem a quem estão a atingir, ou como  - continuando à mercê do algoritmo.

O estudo original mostra a quantidade de plataformas sociais em que têm conta activa 14 grandes meios de comunicação nos EUA. O Facebook, Apple News, Instagram, Twitter e YouTube são as redes sociais em que todos estes media estão presentes. O diário The Wall Street Journal tem conta em 21 plataformas, seguido pelo The Washington Post, que está em todas menos na Line.  

 

A conclusão do texto de síntese, de Media-tics, recorda que o Pew Research Center  já afirmara, num estudo de 2016, que “só 56% dos leitores de notícias online que tinham aberto um link se recordavam da fonte da notícia. Quanto aos utentes do Facebook, só se recordavam do meio [consultado] duas em cada dez pessoas, segundo o American Press Institute. Mesmo assim, a Imprensa parece sentir-se compensada por estar em todas as frentes... pelo menos por agora.”

 

 

O artigo de Media-tics e o estudo a que se refere, na Columbia Journalism Review