Cidades americanas afectadas pela crise da Imprensa local

Para Joshua Benton, que aqui citamos, um jornal em declínio, ou diminuído, ou mesmo um mau jornal, é sempre melhor do que jornal nenhum:
“Algumas pessoas vão discordar de mim. Há aqueles, no meio do jornalismo local online, cuja opinião é a de que é mesmo necessário o fecho do diário de uma cidade para desencadear as mudanças que podem tornar viável um jornalismo local vibrante - e que, por extensão, qualquer ajuda dada a esses diários em declínio limita-se apenas a adiar essa transição gloriosa.”
“Talvez. Mas a minha forte suspeita é que, sempre que fecha um jornal local, o que vem a seguir não consegue substituir a potência jornalística que se perdeu.” (...)
Segundo este autor, há dois grupos que vão determinar o futuro, a médio prazo, dos jornais locais:
“Por um lado, famílias e proprietários de pequenos grupos; pelo outro, as grandes cadeias nacionais, que procuram maximizar a sua escala e eficiência por baixo custo. Nenhum destes grupos conseguiu encontrar modo de manter vivo um jornal diário em Youngstown.” (...)
Quando se fala de proprietários de jornais, nos Estados Unidos, pensa-se sobretudo nos grandes grupos, como Gannett, Tribune e McClatchy. Nas grandes áreas metropolitanas, podem deter uma boa parte dos diários, “mas são ainda uma pequena fracção do mercado total dos jornais”. Há muitíssimos que continuam na posse ou de famílias ou de pequenas cadeias regionais.
“Muitas destas famílias estão cansadas. Têm estado há mais de uma década a combater o fim da publicidade impressa, vêem o rumo que as coisas estão a tomar e não gostam da ideia de tratar o empate como um objectivo estratégico. Já perceberam que não vão convencer os seus filhos ou filhas a voltarem um dia de Brooklyn, para tomarem conta [do negócio]. Querem sair.” (...)
Joshua Benton conta que, no caso de Youngstown, nem mesmo os grandes grupos, que fizeram os seus impérios muito sobre a aquisição de jornais de que as famílias fundadoras procuravam desfazer-se, apareceram para salvar The Vindicator. O processo começou em 2017, mas só suscitou algum interesse da parte de dois grupos. Cada um deles acabou por desistir. E “acabámos por ficar sem potenciais compradores” - lamenta um representante da família Maag-Brown.
Em New Orleans, mais de centena e meia de trabalhadores do venerável The Times- Picayunne, já com 182 anos, foi informada, em Abril, do seu próximo despedimento. Dos cerca de 65 jornalistas que perderam o emprego, 36 querem continuar na profissão, 19 destes mantendo-se na cidade, e apenas dez já contratados pelo jornal comprador.
Nem tudo correu bem na relação com The Advocate, com pelo menos dois colunistas regulares do Times-Picayunne a rejeitarem as “ofertas” como pouco sérias e pouco respeitosas.
Jarvis DeBerry, por exemplo, faz reparos à linha de opinião, ao modelo de negócio, às remunerações praticadas e ao facto de o proprietário ser um político que já tentou, sem sucesso, os cargos de Governador, em 2007, e de Mayor de New Orleans em 2010.
Aponta em The Advocate uma sensação de “triunfalismo” que “afastou uma quantidade de gente de forma totalmente errada”.
Vários dos trabalhadores despedidos trocam New Orleans por The Wall street Journal, o Seattle Times, Tampa Bay Times, St. Louis Public Radio e outros media no país.
Mais informação no NiemanLab e em Poynter.org.