Dinis de Abreu
A acta fundacional do CPI - Clube Português de Imprensa foi assinada a 17 de dezembro de 1980. Entre os fundadores, contam-se personalidades incontornáveis do jornalismo e da sociedade portuguesa, desde Norberto Lopes e Raul Rego, a Francisco Pinto Balsemão ou ao actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O Clube nasceu para agregar jornalistas e outros profissionais do sector , além de gestores de empresas de media, algo em que foi absolutamente inovador, numa época em que uns e outros se olhavam com desconfiança, mal cicatrizadas ainda as feridas abertas pelo processo revolucionário, surgido em 25 de Abril de 1974.
O Clube nasceu, ainda, para contrariar uma certa apatia associativa, e fomentar o debate e a reflexão sobre os problemas que então, como hoje, se colocavam e colocam aos jornalistas e ao jornalismo.
A década de 80, que acolheu o CPI, foi prodigiosa. Num relance, e sem preocupações cronológicas, assinalam-se acontecimentos tão marcantes como o tratado de adesão à CEE, a queda do Muro de Berlim, o desastre de Camarate ( que vitimou Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa e cujo mistério persiste até hoje, sobre se foi atentado ou acidente), a declaração conjunta para a devolução de Macau à China, ou, ainda, o grande incêndio no Chiado, a chegada da televisão a cores ou a vitória de Carlos Lopes na maratona olímpica de Los Angeles.
Foi também nesta década, mais precisamente em 1985, que o Clube lançou os seus prémios de jornalismo em várias modalidades, num modelo de que foi pioneiro em Portugal.
Visavam distinguir primeiro a reportagem – Imprensa, rádio e televisão -, ou a fotorreportagem. Mas não abdicavam de escolher, igualmente, os melhores entre os mais jovens – as revelações -, incluindo estudantes de ciências de Comunicação e de jornalismo, ou os recém-chegados ao jornalismo económico, uma especialidade que estava a despontar.
Foram numerosos os jornalistas premiados, constituindo um precioso incentivo nas suas carreiras profissionais. A crise apossou-se, entretanto, das redacções, muito antes de ser declarada a pandemia nos primeiros meses deste ano.
O associativismo marcou passo, o perfil das redacções mudou radicalmente, a boémia tradicional extinguiu-se e deu lugar a uma relação cada vez mais estreita e dependente com a Internet e as redes sociais.
O jornalismo praticado hoje, e não apenas em Portugal, tem menos contacto com a realidade circundante, sai pouco para ver e testemunhar o que se passa fora do perímetro do jornal, e absorve, muitas vezes, acriticamente, o que é debitado em blogues, ou nas plataformas virtuais na moda.
A paisagem mediática mudou muito nestes 40 anos. A Imprensa entrou em declínio, com vários títulos a desaparecer, e os que restam sobrevivem com não poucas dificuldades. Mesmo jornais com história correm riscos sérios, se não encontrarem alternativas que captem mais leitores e os fidelizem.
Mais lentamente, tanto a rádio como a televisão, estão a conhecer um fenómeno de crescente erosão. As audiências ressentem-se e a transferência de espectadores e ouvintes para outros meios não para de aumentar. As versões digitais não compensam o que se perde em papel ou nos suportes de transmissão hertziana.
No audiovisual, o advento do satélite e do cabo, este servido pela fibra óptica, tornou quase obsoletos os emissores convencionais, destruindo, a pouco e pouco, o conceito de “grelha” de programas, substituindo-a pela televisão e rádio “a la carte”. Cada um elabora o seu “menú”.
Perante tantas e tão profundas mudanças, naturalmente que o Clube também precisou de adaptar-se, criando novas formas de chegar aos associados e, em geral, a todos os interessados que se habituaram a estar connosco, presencialmente, em iniciativas como os ciclos de jantares-debate, feitos em parceria com o Centro Nacional de Cultura e o Grémio Literário, ou à distância, através deste “site”.
Nos anos 80, quando o Clube deu os primeiros passos e cresceu, houve uma espantosa aceleração das comunicações e do modo de comunicar. Foi uma fase que constituiu um poderoso desafio, embora nem sempre virtuoso.
A par do progresso tecnológico, agravou-se a “crónica negra” dos jornalistas perseguidos, presos e assassinados pelo mundo fora, sem que os poderes instalados dessem mostras de querer travar essa escalada.
Os atentados à liberdade de Imprensa ganharam novos adeptos, mesmo na Europa e no continente americano, e as mordaças, a vários pretextos, concorrem já, em alguns casos, com a imposição das máscaras sanitárias...
Não faltam mesmo os teorizadores que advogam, com desenvoltura, restrições à liberdade de Imprensa, em nome do serviço público. Vivem-se tempos complexos.
Sobram, por isso, as razões para o Clube não baixar os braços. Em homenagem à memória de fundadores que partiram, e por sentirmos que quem nos elegeu, como associado ou frequentador regular deste site, se sente assim mais acompanhado. Falta-nos ainda escrever o futuro.
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