Talvez o exemplo mais forte seja o do tablóide The Sun, que apoiou o Brexit. A sua primeira capa tinha o título em letras maiores “BREX MAD”, sobre a fotografia de uma multidão de votantes fazendo fila para exercerem o seu direito; uma expressão neutra, sobre o clima de grande participação, mas ao alto, logo por baixo do logotipo, uma linha que se prepara para a derrota possível  -  “Farage concedes to remain” – (Farage admite o permanecer). 

A capa que veio depois é uma explosão de alegria, com os vencedores de braços no ar (e uma bonita mulher aos ombros) e o título fortíssimo “SEE EU LATER”. Em inglês, see you later  é uma frase de despedida, como “até breve”, “vemo-nos um dia destes”. Mas o See you later substituíu a palavra do meio pelas iniciais de União Europeia… 

Mesmo os jornais a favor do remain (ficar) tinham títulos cautelosos, mas acreditando que o perigo ia passar. The Times tinha “Closest call for England”  -  uma expressão que significa qualquer coisa como “o último aviso”, que se usa em situações clínicas em que um doente tem um ataque mas sobrevive, se tiver cuidado… 

Curiosamente, o episódio em que os membros do Partido Trabalhista que apoiavam o Brexit foram pedir a Cameron que se mantivesse, em qualquer caso, aparece no cabeçalho tanto do Financial Times, pelo remain, como do Daily Telegraph, que esteve do lado do Brexit

O diário gratuito Metro tinha uma capa que podia dar bem para uma situação de vitória do “ficar” na União Europeia, mas com ambos os lados aliviados: Farage a limpar o suor e Cameron sorridente, com o título “They think it’s all over”  - que pode ser traduzido por “Eles acham que já passou”…

The New York Times publica um artigo sobre a “Turbulência e Incerteza para o Mercado depois do Brexit”, onde se diz que, embora poucos esperem uma crise financeira como aquela que veio depois do colapso do gigante Lehman Brothers, em 2008, também “ninguém sabe ao certo que isso não vai acontecer; o mundo nunca esteve aqui antes”. 

“Economistas e analistas políticos têm estado a observar a campanha como indicador da força dos sentimentos anti-imigrantes muito para além da Grã-Bretanha. O êxito do movimento para deixar o bloco vai ressoar nos mercados financeiros, como razão para assumir uma maior probabilidade de que Donald Trump seja eleito Presidente dos EUA, tirando partido das suas promessas de proibir a imigração de muçulmanos e levantar um muro ao longo da fronteira com o México.”

 

A peça do Observador sobre as capas "falhadas", e o artigo do NYT