“A propensão a trabalhar a informação a partir dos resultados dos acontecimentos”  - diz Elstor Hanzen no início do seu trabalho -  “visa a impressionar o espírito e a sensibilidade do cidadão por meio do efeito do discurso, sem conectar os factos com sua origem, para que se possa estabelecer uma relação de causa e efeito. Porém, é justamente esse modelo de jornalismo que predomina no cenário nacional.” 

O autor apresenta como um dos exemplos principais o noticiário sobre a corrupção, em que se expõe o “superfacturamento de obras, lavagem de dinheiro e outras montras do mesmo ilícito apenas na ponta final do processo, enfoque que tem como objectivo principal impressionar as pessoas e atrair a audiência diante dos escândalos expostos”. 

O mesmo sucede com o noticiário de situações de violência, segundo Elstor Hanzen:

“Dá-se intenso destaque aos assaltos, tragédias, violência, tudo para atrair o público, instalando grande sensação de insegurança na sociedade. Contudo, quase nada se traz sobre a origem de tais males.” 

O autor defende então que “a forma mais apropriada de se estabelecer conexão de causa e efeito no jornalismo é a reportagem”, e prossegue mais adiante:

“Sem elos entre os acontecimentos, logo fica muito difícil compreender e agir com base nas informações que se recebe pelos noticiários. O quadro actual posto pela média é caótico, tanto pelo excesso de informações como pelo mesmo enfoque dado ao assunto, desconectado ainda mais pela falta de contextualização das ocorrências no cenário político-partidário.” 

“O melhor para a sociedade e para o próprio jornalismo seria, portanto, comprometer-se com o debate em prol de ampla reforma política e modernização da legislação eleitoral, que é a fonte e a origem que favorece a corrupção no actual sistema político.”  (...) 

E Elstor Hanzen conclui:

“Independentemente do modelo de reforma política que se adopte, o jornalismo deve empenhar-se para apresentar o que é significante de forma interessante e relevante, e não apenas disseminar os efeitos da corrupção sem elucidar a origem de qualquer causa. (...) Cabe, pois, ao jornalismo iluminar o caminho para o povo achar a melhor saída.”

 

O texto original na íntegra, no Observatório da Imprensa