Brexit: foram os Media e os jornalistas ingleses que “deixaram” a Europa?

E o mandato da Politico Europe, com os seus 60 jornalistas (45 deles em Bruxelas) é, como diz Kaminski, “fazer a cobertura disto para os que cá estão” [the insiders].
“Aquilo que continua a faltar-nos, e de que precisamos urgentemente nos meses e anos que vêm, à medida que a União Europeia e o Reino Unido redefinem a sua relação, é um eco-sistema de plataformas em que a Europa possa ter esta conversa consigo própria a respeito daquilo que pretende ser.”
Citando agora Wolfgang Blau, director de estratégia digital do The Guardian:
“É por falha das empresas de comunicação continentais que a narrativa da União Europeia e do próprio Euro pelo mundo fora está a ser criada, formada e continuada por empresas de media fora da Eurozona - e brevemente, como parece, fora da União Europeia.”
O paradoxo, segundo este jornalista, é que, mesmo quando The Guardian deu passos no sentido de um projecto de informação mais europeu, acabou a “olhar na direcção dos EUA e dos antigos países da Commonwealth”, focando-se no Guardian US e no Guardian Australia.
Por seu lado, Charlie Beckett, professor de jornalismo na London School of Economics, diz que os media britânicos nunca abraçaram a ideia de uma esfera pública europeia e acabaram por retirar muitos dos seus correspondentes de Bruxelas:
“No Reino Unido, optámos por sair de qualquer envolvimento intelectual nesse debate mais alargado quando os tempos eram bons, como agora, em tempos de crise. (...) O problema não é que os jornalistas britânicos se tenham tornado eurocépticos, é que não estão de todo na Europa.”
O canal Euronews entendeu o seu papel, durante o debate do Brexit, como sendo de fazer contraponto a “uma falta de perspectiva pan-Europeia compreensiva”.
E Charles Garside, que foi editor do jornal The European, conta que, na cobertura do Tratado de Maastricht, em 1992, por jornalistas de diversos países, as fontes oficiais tinham duplicidade quando descreviam as consequências desse acordo:
“Ficou muito claro que aquilo que era vendido ao Reino Unido era muito diferente do que era vendido à Alemanha, e assim por diante. Não havia dúvidas a este respeito.”
Mas Matt Kaminski, do Politico Europe, criado na Polónia e veterano do Wall Street Journal, está convencido de que Bruxelas é que é o vértice das notícias mundiais:
“Trump é uma história fascinante. Mas os autênticos eventos históricos de mudança do mundo têm estado a acontecer aqui - como vimos há dias.”
O texto original de Ian Burrell, no European Journalism Observatory