Bettany Hughes, Prémio Europeu Helena Vaz da Silva a comunicar história e património cultural
A cerimónia, realizada na Fundação Calouste Gulbenkian, foi o ponto alto desta iniciativa do Centro Nacional de Cultura, em cooperação com a “Europa Nostra” - que representa em Portugal - e em parceria com o Clube Português de Imprensa.
Na sua alocução de agradecimento pelo Prémio, Bettany Hughes declarou-se “muito emocionada” e honrada pelo privilégio, lembrando que tinha razões “profundamente pessoais” para se sentir assim em Lisboa, porque foi aqui (em Sintra) que veio passar a sua lua-de-mel.
Evocou Helena Vaz da Silva como “uma mulher extraordinária” e, também por esse motivo, declarou que iria sublinhar, na sua intervenção, o papel da mulher no ADN da História da Cultura e da Civilização.
Sobre o seu próprio percurso, recordou que, nos anos 80, a História “não estava muito na moda, era considerada ultrapassada, irrelevante”. Quando pensou que a televisão seria o meio para fazer a sua divulgação, e procurou um produtor para lhe comunicar a importância desse projecto (já nos anos 90), ele disse-lhe três coisas:
“Primeiro, que ninguém está hoje interessado na História; em segundo lugar, que ninguém vê História pela televisão; e em terceiro, que ninguém quer receber lições de uma mulher. E eu fiquei furiosa e decidi que ia provar-lhe que estava errado.”
Na sua apresentação da laureada, também Guilherme d’Oliveira Martins recordou Helena Vaz da Silva como “um exemplo bem presente quando falamos do património e da memória como realidades vivas”:
“Num tempo em que há nuvens negras no horizonte, no tocante a uma perspectiva humanista de cooperação humana e social – numa ameaçadora articulação dos riscos das mudanças climáticas, da saúde, da segurança alimentar, de protecção do planeta e dos perigos inerentes à ciber-segurança – torna-se necessário encontrar respostas capazes de articular a coesão social, a sustentabilidade humana e as novas dimensões do conhecimento.”
Maria Calado, Presidente do Centro Nacional de Cultura, bem como do Júri do Prémio Helena Vaz da Silva, sublinhou que Bettany Hughes é a primeira mulher a receber este prémio:
“Figura multifacetada, historiadora por formação, é professora universitária e autora. Mas é, sobretudo, grande comunicadora que actua no espaço público, informando com rigor, atratividade e sucesso, sobre os mais diversos aspectos da cultura, da história, da filosofia e da ciência.”
Dinis de Abreu, Presidente do CPI, enumerou o elenco dos anteriores premiados com o galardão que traz o nome de Helena Vaz da Silva e, a concluir, afirmou que ela “nunca recuou - e não é demais repeti-lo -, ao defender todas as causas em que acreditou. E foram muitas, estranhas ao ‘carimbo’ tão em voga do ‘politicamente correcto’. Devemos-lhe esse exemplo e a coragem. Ela foi, sem dúvida, o grito da Cultura”.
O Prémio da União Europeia para o Património Cultural distinguiu, em Portugal, o Projecto de Reabilitação do Jardim Botânico do Palácio Nacional de Queluz - também vencedor do Prémio “Escolha do Público” - que foi apresentado por Nuno Oliveira, director técnico do Património Natural.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que não pôde estar presente por se encontrar na Cimeira Ibero-Americana, na Guatemala, enviou uma mensagem de vídeo, evocando Helena Vaz da Silva como “querida amiga, que comigo trabalhou”, e como “jornalista, política e mulher da Cultura”. Dirigiu-se em inglês à historiadora Bettany Hughes, a quem agradeceu e cumprimentou pela sua obra em defesa dos ideais europeus, sendo deste modo “um exemplo para todos nós”.
A condução dos trabalhos foi feita por Sneska Quaedvlieg-Mihailovic, secretária-geral da Europa Nostra.