O autor começa por descrever o ambiente numa conversa com quatro dos seus alunos, em que um deles põe a questão de saber, precisamente, se as Universidades na Hungria podiam continuar a ser livres. 

No espaço das instalações da Universidade, admite Gabor Polyác, é possível falar livremente, ouvir outras opiniões, debater e concordar ou não com os outros. Nem nas suas funções docentes nem como representante da ONG Mertek Media Monitor, que dirige, nem ainda nos seus comentários no Facebook, ou em entrevistas, tem encontrado dificuldades: 

“A Universidade é o espaço onde o pensamento científico e as visões sobre o mundo se podem expor. É o espaço do debate racional e das grandes intuições. Esta é uma resposta à pergunta daquele estudante.” 

Mas há outra resposta depois desta, adverte Gabor Polyác. E é que “a educação superior na Hungria, como estrutura institucional, perdeu a sua autonomia há muito tempo, e em cada degrau foi optando pela adaptação em vez da resistência”. 

De cada vez que o financiamento estatal foi reduzido, passou a gastar menos em material, em despesas básicas de manutenção, incluindo as do aquecimento, até chegar ao ponto de “reunir departamentos e, quando absolutamente inevitável, despedir colegas”: 

“Obviamente, isto foi feito à custa da qualidade da investigação e do ensino. Mas o pior aspecto, sem dúvida, foi que aprendeu a procurar e aceitar as graças dos que estão no poder, e a ficar imensamente grata por qualquer pedaço atirado à sua frente. A imprevisibilidade do financiamento obriga qualquer instituição a cortar projectos individuais  - e a comprometer-se a si mesma.” 

Segundo Gabor Polyác, “desde 2010 as Universidades têm sacrificado a sua autonomia e gradualmente vão-se habituando aos cortes e às humilhações”. 

No caso do ataque contra a Universidade Centro-Europeia, “mesmo os benefícios que ela traz à Hungria  - incluindo alguns que são facilmente medidos em dinheiro -  também parecem pouco importantes para o Fidesz”. 

O facto de ter sido fundada pelo financeiro e filantropo húngaro-americano George Soros serve apenas, na sua opinião, como alibi, como um dos “demónios” criados para legitimar todos os actos do governo. E Gabor Polyác considera um erro grave e uma simplificação que jornais como The Guardian ou Der Spiegel se refiram à Universidade Centro-Europeia como a “Universidade de Soros”. 

“A Universidade Centro-Europeia é para o ensino superior na Hungria aquilo que o Népszabadság  - o maior jornal húngaro, que fechou no ano passado entre acusações de pressão governamental -  era para a liberdade de Imprensa. Nós pensávamos que era uma linha vermelha que o governo não podia e nunca iria atravessar. Estávamos errados.”

 

O artigo original, na íntegra, no European Journalism Observatory, de onde colhemos também a imagem utilizada