O exemplo que a autora propõe parte de uma história recente, quando cerca de uma centena de jornalistas experientes, da redacção da iTélé, em Paris, se demitiram por divergência séria com a direcção do canal e se viram, portanto, na rua.

E a história começa com o que fizeram a seguir: 

“Começou numa noite em que saímos a tomar um copo, os ex-jornalistas de iTélé. Diante do bar, no passeio, estava uma redacção preparada. E isto não é muito frequente.” Foi assim que Olivier Ravanello, especialista no Internacional, contou a Le Monde como nasceu a ideia de criarem um novo meio de comunicação. 

“A equipa de Explicite tem um porojecto e uma ideia de distribuição. Queremos pôr-nos ao serviço das pessoas e recuperar o vínculo com o público por meio das redes sociais.” 

Dito e feito: lançaram uma campanha de recolha de fundos, que lhes rendeu (até ao momento em que este artigo foi escrito) 165 mil euros. Desde Janeiro de 2017, os jornalistas de Explicite abordam a actualidade por meio das suas contas do Facebook, Twitter e YouTube, e fazem-no de preferência usando a linguagem que dominam: o vídeo. 

“Queremos fazer informação que responda às perguntas das pessoas. Não estamos aqui para dar a nossa opinião.” 

Com as ligações em directo, as suas peças explicativas em infografia, as entrevistas de campanha (foi antes das presidenciais francesas) ou as análises de Olivier Ravanello sobre a situação na Síria, conquistaram o seu espaço. Já são seguidos por mais de 40 mil pessoas no Facebook e no Twitter. Claro que o problema é o da suatentabilidade económica do projecto. “Os responsáveis procuram investidores e pensam numa modalidade de pagamento por conteúdo.”

Como conta Carmela Ríos:

"O Explicite é um bom exemplo de como as redes sociais, correctamente utilizadas, são o melhor aliado para um jornalista. O que é que torna diferente a estratégia do Explicite? A seriedade da proposta. Trata-se de jornalistas com experiência, muitos deles com anos de presença nos lares de França. Têm um capital de credibilidade a preservar, e para isso precisam de fazer, nas redes, exactamente o mesmo que faziam quando trabalhavam numa estação convencional: bom jornalismo."  (...) 

A autora põe a seguir uma questão curiosa: não há uma disciplina de “Escuta” nas Faculdades de Jornalismo, mas o conhecimento e a prática dela são determinantes para o jornalismo na era das redes sociais. O único modo de entender a sua importância é “mergulharmos nas redes” e observar. E sugere três linhas de resposta, baseadas na sua experiência de sete anos como responsável pelas Redes Sociais no diário El Mundo:

  1. Somos uma comunidade e o diálogo precisa de dois actores. Nós publicamos notícias e os nossos leitores “respondem” partilhando os nossos conteúdos pelo Facebook, Twitter ou WhatsApp, ou acrescentando os seus comentários, positivos ou negativos. (...)
  2. Onde estão os nossos leitores? Quando identificamos que notícias interessam mais, em que formatos e a que horas, estamos a obter dados imprescindíveis sobre os hábitos de informação dos nossos utentes, que nos servem para adaptar a distribuição dos nossos conteúdos. (...)
  3. O que preocupa os cidadãos? Escutar, nas redes sociais, é como pôr o termómetro a uma sociedade: permite verificar a “temperatura social” em determinado momento e identificar o que suscita mais interesse. Como a febre, as tendências nas redes são, muitas vezes, voláteis e caprichosas, mas trazem dados úteis na hora de construir a oferta informativa do dia. (...)

 

Carmela Ríos volta-se, neste ponto, para uma reflexão sobre “o preocupante fenómeno das fake news” e reconhece que “as redes sociais se revelaram como o veículo natural para a circulação destas armas do séc. XXI e, neste campo, a Rússia vai à frente”. (...) 

“A boa notícia é que abundam os mecanismos que nos ajudam a evitar erros e que, frequentemente, são também de utilização fácil. O uso de ferramentas de verificação de informação na Internet e nas redes sociais esteve durante muitos anos restrito aos jornalistas de investigação e de dados. O seu ensino devia hoje ser generalizado a todos os profissionais do jornalismo: desde o redactor de base ao repórter, ao fotojornalista ou ao responsável de documentação.” (...) 

Os aspectos positivos e negativos da instantaneidade de comunicação entre autores e leitores, até à questão final de saber se ainda é jornalismo aquilo que resulta deste caminho proposto pelas redes sociais são os temas fortes do artigo, cuja leitura esta síntese não pode substituir.

 

O trabalho de Carmela Ríos, na íntegra, em Cuadernos de Periodistas