As notícias são grátis mas o jornalismo não
O autor explica que “ninguém nos obriga a contar o que acontece, e também não temos culpa das turbulências derivadas da mudança tecnológica e da crise económica”:
“Na primeira estamos metidos há duas décadas e ainda não sabemos qual vai ser o caminho. Na segunda levamos dez anos e talvez pudéssemos dizer mais do mesmo: não temos nenhuma ideia de como rentabilizar o jornalismo.” (...)
“Dar de graça pela Internet o que cobrávamos no mundo real foi o maior erro cometido na transformação digital dos media, tão grave que ainda dói. Porque mesmo agora ainda não existe um modelo de negócio para os media (um que funcione). Existe uma amálgama de opiniões que vamos provando e descartando, à medida que não vemos mudanças que nos façam apostar tudo numa carta, como fizémos no seu tempo com as redes sociais.” (...)
“O problema está em que a mudança tecnológica mudou a sociedade e, portanto, as pessoas. Um exemplo: qualquer um de nós pode ler notícias em tempo real, à medida que ocorrem, pela Intrernet. No Twitter, por exemplo, onde jornalistas e charlatães vão deslizando factos reais e irreais, respectivamente, que podemos e devemos crer ou não (respectivamente). Mas não precisamos de abrir o jornal da manhã, porque nessa altura os textos não estarão actualizados nem vão contar nada que não tenhamos lido há doze ou quinze horas. E ainda por cima pagámos por ele.” (...)
Miguel Vega acaba a propor, como “chaves para o jornalismo do futuro”, que ensinemos a nós próprios que “as notícias são grátis, mas o jornalismo não” - neste sentido em que “o conceito de notícia deixou de pertencer-nos desde o momento em que qualquer pessoa com um telemóvel e uma plataforma como o Twitter ou o Facebook pode fazer o mesmo que nós”. (...)
Em segundo lugar, que “devemos recuperar o jornalismo tranquilo, o verdadeiro, o que manda um repórter para os confins do planeta para que percorra a zona durante semanas e se deixe impregnar da realidade que vai contar a seguir; o que custa dinheiro, meus caros amigos, mas traz à sociedade algo que nem o Twitter nem o Facebook nem um tipo com um telemóvel e muita lábia podem trazer.” (...)
“O jornalismo não é grátis, nem para o fazer nem para o vender. O jornalismo de verdade tem de ser pago. Tenho vergonha de ler de graça reportagens impagáveis.” (...)
Neste linha de pensamento, o autor dedica o final do seu texto a uma série de sugestões para melhorar o modelo de sustento do jornalismo. Com a sugestão final de uma literacia que terão de ser os próprios jornalistas a ensinar às suas audiências - convencê-las de que vale a pena pagar pelo jornalismo que fazem.
O texto citado, na íntegra, em Media-tics