O consumo de “fake news” tem efeitos pouco expressivos nas atitudes do público, que podem, contudo, tornar-se significativos e prejudiciais a longo prazo, conclui um estudo coordenado por Ciara Greene, e analisado num artigo do “Nieman Lab”.
Segundo apontou Ciara Greene, a pandemia fez-se acompanhar de uma corrente de notícias falsas, que apontavam para possíveis tratamentos da covid-19, e partilhavam teorias da conspiração sobre o processo de inoculação.
Perante este cenário, alguns governos começaram a preocupar-se com a possível alteração de comportamento dos cidadãos que tivessem acesso a estes conteúdos.
Porém, de acordo com Greene, não existiam estudos concretos sobre este fenómeno, pelo que a autora decidiu realizar uma investigação sobre os efeitos das “fake news” nos comportamentos e opiniões dos consumidores.
O estudo baseou-se num inquérito realizado junto de 4500 participantes, que foram confrontados com diversos artigos sobre a pandemia, incluindo quatro peças com “fake news”.
Os artigos de desinformação alegavam que o consumo de café poderia ajudar a criar anticorpos contra a doença; que comer malaguetas reduzia os sintomas da covid-19; que as farmacêuticas estavam a esconder efeitos secundários das vacinas; e que as aplicações de registo de casos do vírus tinham ligações à Cambridge Analytica.
Após lerem as histórias, os participantes indicaram a probabilidade de alterarem os seus hábitos, tais como beber mais café.
A autora concluiu, assim, que as “fake news” tinham efeitos no comportamento dos leitores, mas não de forma dramática. A título de exemplo, os cidadãos que leram o artigo sobre as “apps” de registo, tinham menos 5% de probabilidade de descarregar as plataformas, do que os consumidores que não leram a peça.
Além disso, Greene concluiu que alguns dos inquiridos desenvolveram “memórias falsas” quanto às peças de desinformação.
Estes efeitos foram pouco expressivos, e não se registaram em todos os artigos.
Contudo, conforme ressalvou a autora, os pequenos impactos podem resultar em grandes mudanças no futuro.
Greene recordou, neste sentido, que, nos anos 2000, notícias falsas sobre a correlação da vacinação e o autismo resultaram na diminuição da taxa de vacinação na infância -- cerca de 10% -- e no aumento dos casos de sarampo.
Portanto, assinala a investigadora, é possível que as “fake news” possam traduzir-se, futuramente, em consequências nefastas para a saúde pública.
Posto isto, Greene conclui que os governos devem adaptar as suas estratégias de combate à desinformação, como forma de evitar futuros surtos da doença.