Neste sentido  - como afirma o autor -  “o termo passa de simples informação mentirosa a tudo aquilo que desagrada  - não apenas aos factos que desagrada, mas também as interpretações das quais se discorda com veemência”: 

“Em outras palavras, o que é fake news para um fanático, é verdade absoluta e inquestionável para o fanático da vertente oposta. A questão é: podem as fake news colocar em risco a democracia ou a liberdade de expressão?” 

Ramon Brandão recorda que a livre manifestação e circulação das ideias “permite à sociedade dispor de uma ampla gama de opções cuja utilização  — às vezes selectiva, as vezes não —  compõe a própria linha de evolução dos costumes e da história”: 

“Assim, o que hoje nos parece inaceitável, amanhã poderá se tornar status quo. Ora, quanto mais vigorosa é a prática da liberdade de expressão, quanto mais densa e variada, mais livres e conscientes serão as decisões que a sociedade deverá tomar… em tese. Na prática, além da diversidade de ideias razoáveis, a Internet e a suposta liberdade que traz consigo deu espaço (mais do que isso, deu visibilidade) para teorias conspiratórias, opiniões detestáveis, versões distorcidas e sentimentos odiosos.” (...) 

Por necessidade de esclarecer e tipificar os termos, o autor propõe que “fake news deveria compreender toda a informação que, comprovadamente falsa, prejudique terceiros, tendo sido forjada e/ou posta em circulação por má fé ou simplesmente por negligência”. (...) 

Acrescenta seguidamente a questão do monopólio assumido pelas grandes plataformas tecnológicas: 

“A Google, o Facebook e seus anexos estão interessados em você por duas razões: primeiro como consumidor e, segundo, pela informação que você gera a partir de suas buscas pessoais que, por sua vez, geram os dados necessários para te transformar em consumidor, pouco importando quem você é ou o que você pensa. Seus anúncios estão tanto em páginas que disseminam fake news quanto em páginas que combatem as fake news. Elas buscam, mais do que qualquer outra coisa, os focos de audiência. Nada mais.” (...) 

Ramon Brandão cita depois o investigador bielorusso Evgeny Morozov, autor de um estudo já traduzido e publicado no Brasil  - Big Tech – a ascensão dos dados e a morte da política

“O modelo de negócios da Big Tech funciona de tal maneira que deixa de ser relevante se as mensagens disseminadas são verdadeiras ou falsas. Tudo o que importa é se elas viralizam, uma vez que é pela análise de nossos cliques e curtidas, depurados em retratos sintéticos de nossa personalidade, que essas empresas produzem seus enormes lucros. Verdade [para elas] é o que gera mais visualizações. Sob a ótica das plataformas digitais, as fake news são apenas as notícias mais lucrativas”. (...) 

“Caso não encontremos formas de controlar essa infraestrutura, as democracias se afogarão em um tsunami de demagogia digital; esta, a fonte mais provável de conteúdos virais: o ódio, infelizmente, vende bem mais do que a solidariedade.” 

“É difícil, portanto, que exista uma tarefa mais urgente do que a de imaginar um mundo altamente tecnológico, mas, ao mesmo tempo, livre da influência perniciosa da Big Tech. Uma tarefa intimidadora que, se deixada de lado, ainda causará muitos danos à cultura democrática.” (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa