“Muitos consideram, com razão, a ascenção das grandes empresas tecnológicas, especialmente das redes sociais, como a raiz dos problemas do jornalismo. Google e Facebook não só dominam o mercado digital   - as duas juntas ocupam quase dois terços desse mercado -  mas além disso as redes sociais desempenharam um papel dominante na divulgação de desinformação online e na procura do clickbait, que foram grandes contribuintes para a crise da confiança nos media.” 

A ideia da imposição de uma contribuição dessas empresas, a usar como apoio ao jornalismo de interesse público, já tem um longo caminho, e este gesto do Facebook não é sem precedentes. Ao longo dos anos já financiou várias iniciativas, incluindo o estabelecimento de relações com organizações de fact-checking, para combater as fake news na sua plataforma, e um fundo de 4.5 milhões de libras para formação de repórteres locais no Reino Unido. 

A Google anunciou, em Março, que ia gastar 300 milhões de dólares em projectos jornalísticos; uma despesa significativa, mas menos de 1% da sua receita, e parcialmente gasto em melhoria dos seus próprios serviços. 

“Os críticos são severos, designando esses esforços como simples ‘folhas de figueira’, ou manobras de cosmética, para distrairem ou adiarem reformas de fundo  - ou como um modo de parecer que estão a tratar do problema da desinformação (incluindo a da Rússia) nas suas próprias plataformas.” 

Em 2017, Emily Bell, directora do Tow Center for Digital Journalism na Universidade de Columbia, dirigiu um apelo às empresas tecnológicas para que reunissem uma doação de mil milhões de dólares para o jornalismo, “sobre o qual não teriam controlo”. Segundo afirmou então, “se cada bilionário das tecnológicas comprasse um jornal, podíamos conseguir algo semelhante; mas nessa altura a sustentabilidade ficaria dependente apenas do lucro e da riqueza pessoal”. (...) 

O autor recorda que, durante grande parte da sua história, o jornalismo foi apoiado por mecenato. “A publicidade permitiu ao jornalismo escapar disso, mas um regresso ao mecenato [patronage, no original]  - por via das empresas tecnológicas -  não é a resposta.” 

Recorda, também, que há mais serviços de interesse público que foram feridos pela revolução tecnológica e o domínio das grandes plataformas. E esta seria mais uma das fraquezas do projecto de uma imposição de contribuição directa das mesmas para os media

“Isso é tratar o jornalismo como uma excepção, um caso raro de interacção entre o disruptor e o ferido pela disrupção. Se nos focarmos só no nosso próprio negócio, arriscamo-nos a perder um quadro muito mais vasto  - assim como nos arriscamos a criar a impressão de que estamos a intervir em nosso favor, quando todos os outros têm de se aguentar.” 

“Ligar o futuro do jornalismo a um imposto sobre as empresas tecnológicas ou as redes sociais amarra ambos ainda mais, tornando uma relação de co-dependência que já é perigosa ainda menos saudável  - e podendo comprometer o jornalismo aos olhos dos leitores.” (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra na Columbia Journalism Review