O autor começa pelas revelações em si, e como estas oferecem aos adeptos de teorias de conspiração uma “rara e muito visível confirmação da malícia organizada pelas elites”. Mas acrescenta:

 

“Talvez previsivelmente, as teorias de conspiração estão a formar-se em torno dos próprios Panama Papers. Alguns crêem que a sua intenção é a de desviar as atenções de Hillary Clinton sobre o caso de Benghazi  [a então Secretária de Estado admitiu falhas de segurança depois do atentado contra a Embaixada dos EUA na Líbia, em 2012], enquanto outros pretendem que o Departamento de Estado fabricou estas histórias para manchar os seus inimigos políticos.”

 

Em vários foruns online, o jornalista Alex Jones, conhecido por ser defensor da teoria da conspiração, e o WikiLeaks, "lançaram dúvidas sobre a origem dos documentos e a integridade do jornalismo. O que está em causa, dizem, são as organizações que financiam o projecto, o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação. O que é mais impressionante, é a incompreensão do modo como funcionam os meios noticiosos " (...)

Sobre os financiadores que apoiam o Consórcio ICIJ (a sigla em inglês), Jack Murtha remete para a informação no respectivo site e acrescenta:

“Alguns, como o Pulitzer Center on Crisis Reporting, apontam no sentido de encorajar um jornalismo forte. A maior parte dos outros tem tendência de esquerda. A Open Society Foundations, por exemplo, é financiada por um abastado liberal, George Soros. As Fundações Ford, a Adessium, e a David and Lucile Packard, tendem a ser apoiantes de causas mais progressistas, entre estas a das mudanças climáticas.

Assim, os que são apanhados no fogo cruzado dos Panama Papers e conservadores como Breitbart, juntaram-se, lançando dúvidas sobre as inclinações políticas dos financiadores da organização.”  (...)  

 

O director do ICIJ, Gerard Ryle, diz que segundo Jack Murtha, "as pessoas que assinam os cheques do ICIJ não assinam as suas reportagens. Há uma barreira entre a redacção e os seus financiadores, o que significa que eles sabem apenas que vem aí um grande tema  - afirma. Diz ainda que não aceita doações de fontes que pretendam ditar a cobertura, e que não há provas de que financiadores como a Ford tentem desempenhar um papel editorial. ‘Já recusei dinheiro’  - acrescenta. ‘E não acredito em receber dinheiro para fazer reportagens sobre um determinado assunto’.”  

 

Sobre a alegação de que as famílias Rockefeller e Carnegie financiam o ICIJ, Gerard Ryle responde que as suas Fundações apoiam o Center for Public Integrity  [que criou o Consórcio em 1997], mas que este não recebe financiamento directo dessas instituições.  

 

Escreve Jack Murtha:

“Se os Panama Papers tivessem denunciado mais americanos, teriam aparecido menos cépticos. É claro que poucos meios noticiosos dos EUA desejaram trabalhar com o ICIJ, por qualquer que fosse a razão, e aí sobram centenas de especialistas em companhias offshore cujos ficheiros continuam seguros.”  

 

Jack Murtha termina referindo-se às críticas da WikiLeaks, que recomenda ao ICIJ a publicação de todos os documentos, ao que Gerard Ryle se opõe. Murtha considera que a  divergência pode ter origem numa entrevista em que Ryle disse: “Nós não somos a WikiLeaks. Estamos a tentar mostrar que o jornalismo pode ser feito de modo responsável.”

 

“Desde então, as críticas da WikiLeaks, que no princípio apoiou os Panama Papers, têm avolumado as teorias de conspiração, bem como a propaganda oficial dos países afectados.”


Mais informação no texto original, da Columbia Journalism Review