Em estrevista concedida a Les Echos  - que aqui citamos do próprio Le Monde -  Daniel Kretinsky entende que seria mais lógico colocar esta questão de um direito de consentimento “se fosse um investidor único a tomar a totalidade [do jornal], nomeadamente se ele ficasse em posição de um potencial conflito de interesses”. 

Interrogado sobre se estaria interessado na aquisição das participações que o grupo espanhol Prisa detém na sociedade Le Monde Libre, responde: 

“Se um dos acccionistas sai, é claro, por definição, que veríamos [isso], porque já somos acccionistas desta empresa. Mas por enquanto é uma especulação.” 

O industrial checo, que fez fortuna no sector da energia e se considera “francófilo” declara que a sua presença na Eslováquia é muito forte, pelo que não seria correcto investir na Imprensa. Kretinsky  já é o accionista maioritário do mais importante grupo de Imprensa no seu país, o CMI – Czech Media Invest

Mas a República Checa é “um território muito estreito” para conduzir o combate que lhe interessa, sobre a regulação das grandes plataformas digitais, as GAFA – Google, Apple, Facebook, Amazon: 

“As consequências das posições tomadas pelas GAFA são subestimadas. A regulação do mundo digital escapa-nos completamente, e eu desejaria bater-me por um sistema mais justo.” 

“Tornando-nos membro da família dos media em França, teremos mais poder para fazer avançar estas ideias. Acrescento que o problema da não-regulação do digital é mais vasto e não se limita unicamente aos espaços mediáticos.” (...) 

Mas recusa a sugestão de que o seu investimento em Le Monde visa, em último caso, participar na privatização da Engie [grupo francês fornecedor de gás natural e energia eléctrica], afirmando que não houve ainda “nem o início de uma conversa com as minhas equipas sobre a hipótese de uma entrada no capital da Engie”. 

Estaria no entanto disponível para investir na energia em França? 

“Por definição, não quero dizer que não” – responde. Mas “um investimento puro nas centrais de carvão é muito pouco provável”. 

Le Monde acrescenta, no final da sua síntese da entrevista de Daniel Kretinsky a Les Echos, o comunicado de 25 de Outubro da sociedade dos redactores do jornal, que declara a sua surpresa e inquietação pela entrada do CMI no capital do Grupo Le Monde, recordando que Xavier Niel e Matthieu Pigasse deram por escrito o seu acordo de princípio sobre o “direito de consentimento” que cabe ao Pôle d’Indépendance, a que pertence a referida sociedade, sobre qualquer alteração do controlo na estrutura accionista da empresa.

 

 

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