A sofisticação política exige um novo papel do jornalismo
A desinformação eleitoral ainda é encarada como um fenómeno alheio aos jornalistas, uma vez que continua a ser desmistificada fora das redacções, e que a maioria dos profissionais dos “media” não tem qualquer tipo de formação sobre “fact-checking” no contexto político.
Conforme apontou Carmela Rios, num artigo publicado nos “Cuadernos de Periodistas”, editados pela APM – com a qual o CPI mantém um acordo de parceria, – este tipo de distanciamento pode ter consequências negativas para os consumidores de informação, uma vez que as notícias e o "fact-checking" das mesmas surgem em formatos distintos.
Rios começou por recordar que, pelo menos em Espanha, a utilização de “Big Data” no contexto eleitoral não é algo novo. Isto porque, em 1977, após 40 anos de Franquismo, um dos candidatos presidenciais, Adolfo Suárez, enviou uma carta a 23 milhões de espanhóis, apelando ao seu voto.
Ora, embora Suárez não tenha beneficiado da rapidez de disseminação oferecida pelas redes sociais, este candidato usufruiu da fita magnética, que permitia, à época, a mecanização do censo eleitoral.
Quarenta anos mais tarde, do outro lado do Atlântico, o “New York Times” dava conta da utilização de publicidade personalizada pouco ortodoxa , executada por agentes russos, com um grande nível de impacto e sofisticação, a favor da campanha de Donald Trump.
A partir desse momento, afirmou Rios, ficou claro que os jornalistas não poderiam continuar a seguir as campanhas eleitorais da forma tradicional, com a presença em comícios, e entrevistas a candidatos políticos.
Contudo, citando David Álvarez , consultor e especialista em redes sociais e comunicação política, Rios sublinhou que o processo de adaptação do jornalismo ao novo ecossistema de informação está a ser trabalhoso e complicado.
Isto porque, conforme explicou Álvarez, apesar de terem sido criadas várias iniciativas de “fact-checking”, a maioria dos jornalistas ainda não tem um papel activo e predominante neste processo.
Fevereiro 22
“Tudo o que tem a ver com desinformação foi tratado como conteúdo jornalístico e não como um fenómeno em que o jornalista deve ser um actor importante. Qualquer profissional deve ter noções básicas de como a desinformação é produzida e disseminada”, disse aquele especialista.
Esta realidade, considerou Rios, pode ter consequências negativas em contexto político, uma vez que, ao não disporem de conhecimentos básicos sobre “fake news”, os jornalistas não conseguirão explicar determinados fenómenos aos eleitores, contribuindo para um panorama de confusão e dúvidas.
Além disso, ao não conseguirem um esclarecimento claro por parte dos jornalistas, os cidadãos terão uma maior probabilidade de acreditarem nos artigos de desinformação que circulam nas redes sociais, em época de campanhas eleitorais.
Perante este quadro, Rios afirma que o jornalismo revela-se, agora, mais necessário do que nunca, num contexto político que se assemelha “a um campo de batalha”, onde alguns actores recorrem com sucesso “às novas armas da desinformação”.
Assim, conclui Rios, é urgente que os profissionais se adaptem, conquistando uma posição activa no combate à desinformação, e no esclarecimento de questões colocadas pelos consumidores de notícias.
Caso contrário, a política continuará a beneficiar da confusão e ignorância sociais.
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