A revolução do digital e os seus efeitos no modo de fazer jornalismo

As primeiras questões são provocantes, e Enrique Dans retribui no mesmo registo, afirmando que não há alternativa. Concretamente, interpelado a respeito de um estudo feito na Universidade do Texas, dizendo que a transformação digital dos media pode ter sido um grande erro, responde que não, que “a transformação digital não tem alternativa, e se não fores tu a transformar-te, alguém vai fazê-lo e roubar-te directamente”.
Interrogado sobre se o erro foi o de dar de graça, pela Internet, aquilo que se pagava no papel, diz que não, que “se não o tivessem posto grátis, aparecia outro que o daria grátis”...
“O problema não é que a transformação tenha sido um erro, o problema é que foi mal feita. Foi liderada, em muitos casos, pelas mesmas pessoas que lideravam o negócio do papel, e que tentaram continuar a fazer o mesmo.”
Indo directamente à questão do sustento do jornalismo, Enrique Dans afirma:
“A questão é que, se pretendes que o teu produto tenha um preço parecido com o que tinha no papel, quando o levas para a rede, desenvolver o hábito de as pessoas passarem a comprar por uma coisa que não é física e que, além disso, com dois clics do ‘rato’ encontram quinze alternativas diferentes para obter a mesma informação, ou melhor, é muito complicado. (...) Eu creio que o problema do jornalismo é não ter claro qual é a sua proposta de valor. Se a proposta é ‘eu dou-te informação’, já há muita gente que dá informação, até o Twitter dá informação, e eles não são jornalistas nem têm preparação para tal. Se não te adaptas ao que eu quero como informação, não és diferencial e portanto não podes cobrar.”
O tom é este. Especialista em sistemas e tecnologias de Informação, Enrique Dans não está a chocar-nos de propósito, mas a explicar os caminhos que lhe parecem indicados para encontrar soluções e fazer bem o que temos estado a fazer por caminhos equivocados. Sabendo que o seu ponto de partida é o da superioridade natural, e a partir de agora indiscutível, da Informação digital.
É assim que trata da questão da publicidade, da forma de tornar rentáveis os conteúdos, da relação desigual entre as grandes plataformas (como Facebook e Google) e os meios de Informação ‘clássicos’, e de que modo nações, como a Irlanda, a Coreia do Sul e a Espanha, têm respostas diferentes a estes problemas. Por último, das questões realmente causadoras de ansiedade - machine learning e o futuro do emprego.
Este esboço de síntese não dispensa a leitura da entrevista na íntegra, no site media-tics.