“O jornalista é treinado para se colocar no lugar do outro, cultiva a empatia como ferramenta básica de trabalho. E então vê que estes jovens – que ainda têm a mesma inteligência, a simpatia e o calor de sempre – foram enganados, que a culpa não é só deles. Que a incultura, o desinteresse e a alienação não chegaram até eles por si só. Que lhes foram matando a curiosidade e que, com cada professor que deixou de corrigir os seus erros ortográficos, foi-lhes ensinado que tudo é mais ou menos o mesmo. Depois, quando se apercebem que eles também são vítimas, quase sem se dar conta [o professor] vai baixando a guarda. O mau acaba por ser aprovado como medíocre. O medíocre passa por bom. E o bom, nas poucas vezes que chega lá, é celebrado como se fosse brilhante. Eu não quero fazer parte desse círculo perverso”, revoltou-se Haberkorn na sua carta de despedida”.

Continuando a falar dos exemplos de grandes reportagens e jornalistas que marcaram a história, dados pelo professor demissionário, que não motivaram qualquer tipo de interesse nos seus alunos, Cunha afirma que “Haberkorn não acredita que uma sociedade democrática seja viável com cidadãos tão desinformados, sejam ou não jornalistas ou futuros jornalistas.

No entanto, salienta que o lamento do professor sobre a falta de reacção de seus alunos não indica uma atitude contra as redes sociais e as suas plataformas e cita novamente Haberkorn:

“São ferramentas maravilhosas. Uso-as na minha vida pessoal e profissional, como jornalista e professor. Crio sempre um grupo de Facebook no curso, onde partilhamos material de interesse e publicamos trabalhos, que todos podem ver e corrigir em conjunto. Mas, claro, ter o Facebook aberto reforça a tentação de prestar atenção noutras coisas”, adverte.

“Não sou contra a Internet, nem o Google, Facebook, Twitter ou WhatsApp. Uso todos. Como jornalista, tiro muito bom proveito de todas essas ferramentas. São instrumentos que permitem potencializar o trabalho jornalístico desde que usados adequadamente”.

Esta apatia está a ser cada vez mais recorrente nas escolas de jornalismo do mundo inteiro, segundo o autor, “assediadas pela overdose de novas plataformas que preferem o entretenimento à informação. Inebriada pelas imagens fugazes, pela música envolvente e pelo conteúdo raso, que não exige leitura nem cansa o cérebro, as novas gerações viciam-se em plataformas trepidantes e balançantes que prescindem de conteúdo, de reflexão, de contexto e de informação – elementos básicos do jornalismo de qualidade e relevância” afirma o autor.

Apesar do sentimento abúlico, aparentemente demonstrado por grande parte dos estudantes de jornalismo, Luiz Cláudio Cunha, termina o seu artigo com uma nota positiva ao afirmar:

“Ao contrário do que diz na sua carta, não nos podemos cansar, nem render, nem atirar a toalha ao chão. Aulas como as de Haberkorn, nunca deveriam terminar. E não podem acabar em silêncio”.

Para consultar o artigo completo visite o endereço de E-mail: https://www.observatoriodaimprensa.com.br/jornalismo/o-professor-que-renunciou-derrotado-pelos-celulares-na-sala-de-aula/