“Esta profissão é melhor do que julgamos e por vezes esquecemos. Assenta em dois ou três códigos básicos que a tornam apaixonante. Para mim, um desses códigos é a humildade. Outro é a indignação diante das injustiças, em defesa da dignidade daqueles que têm menos voz ou menos força. Para mim, é isso que devia fazer parte do ADN do jornalismo.” 

“Mas não creio que seja a única função: indignação perante a injustiça, consciência crítica mas com humildade, contar o que está a acontecer e esforçar-se por revelar aquilo que os poderes acham que devia continuar escondido. Acho sempre que o melhor desinfectante numa sociedade é a luz do sol  - quer dizer, a transparência.” (...) 

Sobre as questões da desinformação, boatos e fake news, García Ferreras recorda que sempre as houve na profissão, estando agora mais aceleradas pela natureza das redes sociais. Defende que o antídoto é a valorização e procura constante da verdade, “mas praticando sempre a religião do jornalismo, que é a decência”: 

“O desafio principal do jornalismo é a decência. E é isso que traz, com o tempo, a credibilidade.” (...) 

E acrescenta que não é preciso qualificar (ou desqualificar) o jornalismo actual por comparação com o anterior: 

“Em todas as épocas há elementos que nos podem deslumbrar, de coragem, de seriedade, rigor e força, e outros muito mais questionáveis. (...) Há bom jornalismo a ser feito agora, como há mau jornalismo. Como sempre, mas num ecossistema diferente e com outras velocidades.” (...) 

Sobre o programa de debate que dirige, Al rojo vivo  -  por vezes louvado por estar a fazer o “serviço público” que nem sempre fará a própria televisão estatal, ou, por outras pessoas, criticado pelo ambiente de “debate crispado” em que pode cair, García Ferreras responde: 

“Fazemos aquilo que cremos que temos de fazer. (...) Creio que todos os jornalistas procuram fazer um serviço público, estejam onde estiverem. Não discutimos se somos os substitutos de qualquer televisão pública. Fazemo-lo porque acreditamos nele.” (...) 

“Não gosto dos programas de debate político com crispação ou com briga. Creio que a paixão é aceitável. A emoção, a paixão, o debate, o cruzamento de opiniões diferentes.” (...) 

“É verdade que o tom de voz, neste tipo de debate, pode ficar crispado. Mas eu afasto-me da crispação, não gosto, mesmo que algumas pessoas achem que isso pode dar audiência. Não me interessa a audiência se é assente na crispação. O que me interessa é a informação, as chaves [de compreensão], procurar  decifrar as causas do que acontece.” (...) 

E em resposta à pergunta sobre se se considera um jornalista “incómodo, combativo e insistente”, afirma: 

“O jornalismo crítico significa arriscar. O jornalismo não pode ter sangue de cobarde, e isso faz com que, por vezes, sejamos incómodos e nos coloquemos em posições que, evidentemente, inplicam que não nos levantamos de manhã para fazer amigos. Acredito num jornalismo que tenha capacidade de incomodar o poder. E quando falo do poder não é só do governo, mas dos poderes: financeiros, políticos, empresariais, laborais...”

 

A entrevista na íntegra, na APM