Porém, passados alguns meses da pandemia e o regresso a uma “normalidade”, os índices de recusa voltaram a aumentar (no Brasil a recusa dos leitores duplicou em 5 anos, passando de 27%, em 2017, para os 54%, em 2022).

A relação da recusa de notícias com a saúde mental pode ser identificada pelos motivos listados pelos entrevistados:

• 36% dizem que as notícias têm efeito negativo sobre o humor.

• 29% dizem que estão desgastados pela quantidade de notícias e

• 16% dizem que não há nada que possa ser feito com as informações.

É oportuno citarmos, também, que o índice dos que evitam as notícias é maior entre pessoas com menos de 35 anos. Os dados apontam que o evitar notícias faz parte de um comportamento geracional, onde os mais jovens dão espaço às redes sociais em detrimento dos veículos de comunicação. Entre os motivos para recusa de notícias entre os jovens, 15% dizem ser difícil acompanhar as notícias.

Assim, ainda que a recusa de notícias esteja dentro de um cenário amplo, há pistas do que os jornalistas e órgãos de comunicação podem fazer para responder à transformação no modo de consumo de informação.

As notícias deixaram de ser projectadas para as pessoas e passaram a ter como objectivo principal as vendas. A influência das métricas na produção de notícias já reúne estudos e reflexões importantes, os seus efeitos a curto prazo podem funcionar, mas verifica-se que a longo prazo não há sustentabilidade.

Ao analisarmos o factor humano e psicológico do contributo para “transtorno de stress das manchetes”, a jornalista do Washington Post sugere três factores que podem contribuir para as notícias causarem menos cansaço e, consequentemente, diminuir a recusa de notícias:

• a esperança – biologicamente relacionada a baixos índices de depressão e ansiedade, a possibilidade de mudança é importante fisiologicamente para o ser humano.

• a “agenda” – a possibilidade de ação diante de um cenário noticiado estar relacionada com a esperança o que é mais evidente em produções sobre as mudanças climáticas.

• a dignidade – considerar que o valor da vida, da fonte entrevistada ou do público, sejam vistos como humanos e não, apenas, como parte do trabalho.

Apesar de colidirem com gatilhos de interesse público que já estão no nosso imaginário, como a morbidez e a catástrofe, as perspectivas de Repley não parecem descartáveis, mas antes complementares para as produções jornalísticas da atualidade.

Se, cada vez mais, a importância da saúde mental está a ser evidenciada, é natural pensar que deva ser considerada nos nossos trabalhos. Muitos desafios devem ser levados em conta, desde os conflitos organizacionais até a práxis jornalística, mas o facto é que, para Luiza Mylena Costa não podemos continuar a insistir num modo de produção se os hábitos de consumo estão, evidentemente, a mudar.