A “normalização” do insulto nos comentários dos leitores “online”
Em entrevista ao Público, que aqui citamos, o autor explica que “a grande diferença é que as pessoas criticam o insulto quando ele acontece na secção de Sociedade”:
“O mesmo não acontece nas notícias da Política. Na Política é quase normal haver insulto nas caixas de comentário. (...) Os jornais, ao tratarem as eleições como um jogo, focando-se em quem está à frente e quem está atrás - com uma atenção maior às sondagens - reduzem a qualidade dos comentários às notícias.”
“É a ideia de horse race (corrida de cavalos), introduzida num trabalho clássico de Broh” - Anthony Broh, Horse-Race Journalism: Reporting the Polls in the 1976 Presidential election. (...)
“O que os resultados mostram é que tratar a política como um jogo, colocar o foco no discurso do quem ganha e quem perde, aumenta a participação dos leitores, o que é positivo. (...) Por outro lado, há menos relevância nesses comentários - as pessoas tendem a afastar-se dos tópicos e a falar de outros assuntos. Mas não tem consequências para a civilidade.” (...)
O elemento agressivo e de incivilidade pode ser trazido pelos próprios políticos:
“O discurso dos comentadores espelha os temas da agenda dos partidos e dos seus programas. Do mesmo modo, o tom que se usa nas discussões também decorre do tom usado pelos políticos. Quando as pessoas percebem que a forma normal de falar de política é o ataque quase constante, acabam por se atacar entre si quando discutem política.” (...)
Quando o tema da polémica são ataques à competência, ou sugestão de que “alguém é desonesto ou cometeu crimes, os principais visados são os políticos”:
“Quando estamos a falar de ataques à identidade (insultos pessoais), são repartidos entre políticos e outros comentadores. Por vezes, os jornalistas também são visados, sobretudo nos ataques à competência.”
“Um terço dos comentários não tem qualquer tipo de insulto. Um terço dos comentários tem incivilidade dirigida aos políticos e 20% aos outros comentadores e 5% à Imprensa e aos jornalistas.”
“Grande parte da incivilidade não tem a ver com os níveis de educação das pessoas, nem com o facto de comentarem mais ou menos intensamente, mas com uma afiliação ideológica mais vincada. As pessoas mais polarizadas são tipicamente aquelas que têm um discurso mais incivil. Quanto mais se entrincheiram num determinado ponto de vista, menos tendem a aceitar os outros.” (...)
A entrevista aqui citada, na íntegra no Público impresso, com o acesso online exclusivo para assinantes.