A missão de um jornalismo responsável em casos extremos
O autor do Comentário da Semana de ObjEthos – Observatório da Ética Jornalística interroga-se sobre como podem os jornalistas preparar-se para momentos como estes:
“Eu diria que jornalistas profissionais, com formação superior, precisam se preparar para coberturas complexas que envolvem o inesperado e o impactante. Para tanto, devem se reconhecer como profissionais que desempenham uma actividade com reflexos sociais, devem estar cientes das possíveis consequências e danos irreversíveis que podem ser causados por informações incoerentes e desequilibradas.” (...)
“É algo que não se ganha, é algo que se conquista, intransferível, frágil, que informações jornalísticas podem afectar de maneira irremediável. A prisão injusta e consequente morte de um homem, o acto terrorista de um estadunidense que matou mais de 50 pessoas e a insanidade brutal de um abjecto que incendiou uma creche são produtos vendáveis ou sintomas estarrecedores de mazelas sociais?” (...)
“As ações jornalísticas impactam diretamente na convivência social e na estruturação dos sentimentos e sentidos que movem determinados grupos sociais. Dessa forma, são um elemento constitutivo significativo de interpretação do entorno e do cotidiano dos indivíduos. O desconhecimento dessa condição singular da atividade jornalística é muitas vezes utilizado e se manifesta por meio de álibis descabidos de jornalistas que culpam o ‘calor do momento, o ‘imediatismo’ ou as ‘informações desencontradas das fontes’ para eximir-se de suas responsabilidades.” (...)
O autor contesta “a noção de que o jornalista é um mero observador, uma entidade neutra, sem sentimentos e intencionalidades. Essas falácias negligenciam a dimensão humana da atividade jornalística e estimulam a propagação de um sentido jornalístico extremamente artificial e apático. (...) Ao reproduzir a boçalidade de ‘autoridades’ públicas e a insensatez de bárbaros assassinos de maneira acrítica, os jornalistas abastecem a desumanização e gradativamente se aproximam da insanidade, do vale tudo mercadológico”.
“Predominantemente, o valor monetário está solapando o valor informativo do conteúdo jornalístico. Ao se deparar com casos extraordinários os profissionais não parecem idealizar a verdade, mas o que seria bom para vender. Em inúmeros casos o jornalista explora a superficialidade e não explica a particularidade dos factos. O debate sobre essas questões é premente, as dimensões ligadas à humanidade e à dignidade que envolvem a ética jornalística devem ser discutidas com seriedade profissional, como elementos e condutas inalienáveis.” (...)
O texto citado, na íntegra, em ObjEthos, cuja ilustração, de Vítor Teixeira/Portal Fórum, aqui reproduzimos