A mentira como matéria prima na vertigem das notícias falsas
O autor deste trabalho declara que a associação desta dificuldade em distinguir o falso do verdadeiro com a proliferação deliberada de “noticiário mentiroso” desemboca numa “mistura de desinformação, preconceito, intolerância, incompetência para a escolha consciente e incapacidade de autodeterminação; ou seja, o contrário das bases para o bom funcionamento do sistema democrático”.
O responsável pelo inquérito da Universidade de Stanford, Sam Wineburg, afirma: “Muita gente acredita que os jovens, bem ambientados nas redes sociais, têm perspicácia para compreender o que lêem. O nosso trabalho mostra que o oposto disso é verdadeiro.”
A reportagem publicada pelo Washington Post em Novembro do ano passado “revela que Paris Swade e Danny Gold, donos de um site direitista radical de notícias falsas, orgulham-se – sim, orgulham-se!, sem qualquer sinal de remorso – de praticar ‘imprensa marrom’. Até os nomes que os dois usam são falsos. Para ganhar caminhões de dinheiro precisam de um laptop e de um sofá para escrever e acompanhar a viralização dos posts. Na última eleição, todos os candidatos republicanos investiram grana preta no site deles”.
A mesma reportagem conta que Paris Wade e Ben Goldman, os seus verdadeiros nomes, eram dois empregados de restaurante no desemprego seis meses antes de descobrirem que podiam ganhar muito dinheiro sentados num sofá, a produzir e divulgar tretas nos seus computadores pessoais.
“Entre Junho e Agosto, como dizem, quando tinham menos de 150 mil seguidores no Facebook, faziam entre 10 mil e 40 mil dólares por mês pondo anúncios que, entre outras coisas, prometiam soluções para o acne, alternativas ao Viagra, [métodos para curar vários problemas corporais] e ‘as selfies das 13 celebridades mais sexys e mais nuas’. Depois o drama político aprofundou-se e a sua audiência multiplicou por cinco, e agora Goldman pensa que o que ganhou nos últimos seis meses ter-lhe-ia custado 20 anos a servir mesas no seu antigo trabalho.”
O artigo de Paulo José Cunha, no Observatório da Imprensa, e a reportagem original em The Washington Post