Pedro Mexia compara esta perda com outra, também importante para si, a dos “cinemas-cinemas”, que foram fechando uns atrás dos outros:

“É claro que tive pena quando acabaram, que me doeu. Como me custa agora que o meu primeiro jornal abandone aquele edifício monumental-modernista, com a fachada que lembra uma impressora, a torre com o farol e um lanternim, as letras góticas, o globo terrestre, o esplendoroso átrio antigo, a entrada mais pequena com as portas giratórias, os painéis do Almada que evocam Camões: ‘Quem não sabe arte, não na estima’, tremendo aviso.” (...) 

Recorda conversas e discussões na redacção, um jornalista da velha guarda que verberava “os jovens que não conheciam ‘o cheiro do chumbo’”:

“Achei ridícula essa retórica serôdia do ‘chumbo’, mas talvez fosse um pouco menos ridícula naquele jornal, o jornal onde escreveram o Camilo e o Eça, o jornal que publicou a carta do Victor Hugo, o jornal mais do que centenário.” (...) 

“Para mim o Diário de Notícias era aquele edifício, um edifício propositado, majestoso, elegante, o edifício de Pardal Monteiro, um edifício no qual me orgulhava de entrar, com um cartão de visitante, depois de colaborador, cartões que guardei como troféus não sei bem de quê. Sou um sentimental dos jornais, o que é que querem?”  (...)  


“O DN foi para mim um jornal de grandes encontros. O jornal do Manuel Dias, que apadrinhou uma geração. O jornal das conversas sobre livros na sala verde, a sala de honra, transformada em acampamento de jovens. O jornal onde conheci os meus amigos. O jornal de onde saí algumas vezes cabisbaixo, pela Rua Rodrigues Sampaio, e de onde saí outras vezes esperançado, Liberdade abaixo.”