A investigação por fazer à morte de um repórter de guerra
Menos ruído nos media, significa menos pressão sobre as autoridades para agirem. Consequentemente, existem poucas investigações sérias sobre jornalistas mortos no exercício da profissão.
Nos últimos anos, houve uma aceitação crescente de que repórteres e fotógrafos, podem ser mortos impunemente na cobertura de conflitos. O caso de Allen é, portanto, emblemático da situação actual.
Desde que foi morto, os seus pais, parentes e amigos têm-se esforçado para que haja uma investigação sobre a sua morte, mas foram frustrados por uma mistura de apatia oficial na Grã-Bretanha, uma inércia burocrática nos Estados Unidos e pela realidade sangrenta no Sudão do Sul.
Allen, com dupla nacionalidade, britânica e americana, tinha 26 anos quando morreu na guerra civil do Sudão do Sul. Estava em reportagem junto de um grupo de rebeldes, que pertenciam ao Movimento de Libertação Popular do Sudão, quando estes, lançaram um ataque à cidade de Kaya, controlada pelo governo, perto da fronteira entre a República Democrática do Congo e o Uganda.
Segundo os relatos iniciais, foi vítima de fogo cruzado. Versão logo descartada, porque foi baleado cinco vezes por soldados do governo, que supostamente teriam acreditado tratar-se de um "rebelde branco". Será que confundiram a sua máquina fotográfica com uma arma?
Algo que parece altamente improvável. O jornalista da Associated Press , Sam Mednick, entrevistou os soldados envolvidos que admitiram que sabiam que Allen estava com uma câmara fotográfica, mas mesmo assim resolveram disparar. Por outras palavras, foi alvejado por ser jornalista.
Fotos do seu corpo vestido foram postadas nas redes sociais.O Sudão do Sul recusou-se a promover uma investigação. A hipótese de a Grã-Bretanha realizar um inquérito sobre a morte de Allen foi pedida quando seu corpo chegou a Heathrow, a caminho dos EUA.
A falta de investigação é certamente uma das consequências de haver pouca publicidade sobre o assassinato nos media britânicos.
Quanto aos EUA, a família de Allen pediu uma investigação do FBI, porque suspeita ter sido um crime de guerra. Até agora, nada aconteceu. Mas os seus pais, Joyce Krajian e John Allen, que vivem nos EUA, não desistiram. “Precisamos de encontrar justiça para a vida tragicamente curta de Christopher, para garantir um mundo mais seguro para os jornalistas que trabalham em de zonas de guerra", afirmaram.
Um escritório de advogados de Londres, Doughty Street Chambers, ofereceu apoio à família Allen. Uma das advogadas, Caoilfhionn Gallagher, realçou que há uma causa provável para suspeitar que Allen tenha sofrido um duplo crime de guerra. O primeiro crime, ao ser morto por ser jornalista e o segundo pelo ultraje à sua dignidade humana, quando submeteram o seu corpo a tratamentos humilhantes e degradantes.
A advogada afirmou que “um jornalista, incorporado ou não num grupo armado, tem direito a protecção. Os jornalistas que testemunham conflitos armados exercem os seus próprios direitos fundamentais à liberdade de expressão e prestam um serviço público”.
A sua mãe disse que o “Christopher queria trazer à luz histórias de regiões pouco cobertas do mundo. Ele dedicou-se a cobrir o que considerava guerras invisíveis.” Mas a morte de Allen não deve ser invisível. Deixar passar este crime sem uma investigação rigorosa, é sancionar a impunidade do assassinato de jornalistas.
(Mais informação no The Guardian)