A proposta que faz, no texto que aqui citamos, é a de usarmos como instrumento de trabalho o conceito de “mediamorfose”, de Roger Fidler, um técnico e investigador, pioneiro na introdução do digital nos meios de comunicação nos EUA, com mais de três décadas de experiência do que é a inovação e quais são as consequências neste terreno. 

“O rádio começa como um jornal falado e a televisão como rádio com imagens. As transformações nos media demonstram que há um tempo de maturação e assimilação de novas tecnologias. A mudança que vivenciamos com as tecnologias digitais é mais complexa porque impacta de forma intensa os modelos de negócio.” 

“A ruptura tecnológica e social provoca a morte de meios tradicionais ou mesmo da carreira de jornalistas que não se adaptam à nova realidade. (…) O fenómeno é conhecido: fechamento de meios impressos, declínio da audiência na televisão, desemprego de jornalistas e falta de vagas para os iniciantes na carreira. Entre outros factores, a consequência é a tendência de ruptura do modelo de negócio tradicional dos media com o processo de perda de anunciantes que sustentam o jornalismo de qualidade. (…)  Grande parte das verbas de anúncio alimentam, entretanto, as grandes corporações da Internet.” (…) 

O texto de Pedro Varoni chama especialmente a atenção para a interactividade como característica constitutiva do digital, que "faz com que a transferência de controlo mude do emissor para o receptor": 

“Na rede, os usuários desempacotam as informações de acordo com seus interesses e precisam de se sentir parte da produção de conteúdo. O mundo digital é criativo, inovador e dinâmico e todos potencialmente são produtores de conteúdo. O resultado é a perda do tradicional papel mediador do jornalismo diante da emergência de novos modelos e formatos a partir, por exemplo, da difusão de blogs e vlogs.” (…) 

Cita depois um dossier sobre inovação e jornalismo digital, publicado na revista Contemporânea de Comunicação e Cultura da Universidade da Bahia, onde a Prof. Leyla Dagruel observa que não é possível transpor os modelos económicos de inovação para o campo dos media

“Propostas baseadas no binómio produto e processo são insuficientes para tratar do campo mediático ou jornalístico, pelo impacto cultural e social que as produções provocam. Inovações mediáticas contribuem para mudanças sociais e económicas.” (…) 

“Mesmo que não seja necessário, ao jornalista, dominar as ferramentas de áreas como administração, tecnologia ou marketing, é preciso saber dialogar com os pares de modo a constituir um planeamento capaz de financiar os projectos  — seja numa dimensão de acções empreendedoras em colectivos ou dentro das corporações.” (…) 

E a conclusão de Pedro Varoni é elucidativa: 

“O jornalismo participativo dialógico que se delineia é um campo fértil capaz de redefinir os paradigmas que orientaram a profissão na era industrial. Mas a transição de um modelo ao outro não se faz sem alguma dor.” 


O texto na íntegra, no Observatório da Imprensa, de onde colhemos a imagem utilizada, e informação sobre o conceito de mediamorphosis de Roger Fidler