Segundo as agências internacionais, o número de mortos, devido aos ataques aéreos e às condições de fome no país, pode chegar aos 80.000.


“Jornalistas locais são rotineiramente alvos de campanhas de difamação, conduzidas pela coligação saudita e pelos houthis, nas redes sociais” conforme diz  Radhya Almutawakel, presidente do Mwatana for Human Rights, um grupo iemenita de direitos humanos.  "Tentam espalhar a ideia de que somos espiões dos EUA", afirmou ainda , e  "isolam-nos da nossa comunidade, porque sabem que a pior coisa que nos  pode acontecer é sermos rotulados de tendenciosos".


Para Shuaib M. Almosawa, jornalista freelancer baseado em Sanaa, ter um perfil discreto manteve-o seguro e permitiu que preservasse a sua credibilidade.


Almosawa escreve principalmente para os media ocidentais, como Times, The Intercept e Foreign Policy. "A maioria das pessoas no Iémen não lê jornais internacionais ou notícias on-line, portanto, as pessoas não me reconhecem."


Os repórteres estrangeiros enfrentam outros problemas. Quando Iona Craig, jornalista independente, começou a cobrir a revolta no Iémen em 2011, lembra, que o acesso era uma mercadoria rara. Os jornalistas estrangeiros continuam condicionados entre o norte controlado por Houthi e pelas forças da coligação saudita no sul e precisam obter autorização de ambas as partes se quiserem entrar no país.


A primeira reportagem significativa sobre o Iémen na imprensa americana apareceu em Outubro de 2016, quando uma bomba atingiu um funeral em Sanaa e matou mais de 100 pessoas.


Outra cobertura focada no impacto humano da guerra foi história do New York Times sobre Amal Hussain, de sete anos de idade, que provocou protestos em todo o mundo.


Craig ressalta que a foto de Amal e a sua morte, devido à fome, simbolizaram o sofrimento do Iémen e receberam uma rara cobertura na primeira página. A coligação também anunciou um abrandamento das restrições de acesso no Verão de 2018.


Mas a maioria dos jornalistas atribui o recente interesse pela cobertura do Iémen ao assassinato, em Outubro de 2018,  do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul. O homicídio desencadeou um debate público e um escrutínio das acções sauditas nos EUA.


Em Julho, a PBS publicou um artigo detalhando um acordo de armas com a Arábia Saudita no valor de 8 biliões de dólares.    O Intercept  também publicou um relatório pormenorizado sobre o uso de armas americanas no Iémen, concluindo que “a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos são extremamente dependentes dos sistemas de armas produzidos no Ocidente, para travar a sua guerra devastadora no Iémen”.


Apesar de todo o caos nesta guerra que se eterniza,  diz Maggie Michael, repórter da Associated Press,  ainda envia histórias para jornalistas sobre o custo humanitário do conflito. As forças da coligação saudita pressionam as informações sobre “crianças soldados” que seriam usadas pelos houthis e contra as alegações em torno das prisões e tortura.


Michael, que ganhou um prémio Pulitzer este ano pela sua cobertura da guerra, diz que, em última análise, o conflito reflecte o dilema essencial enfrentado por todos os jornalistas: “Você recebe versões diferentes da verdade e o seu trabalho é cavar fundo para revelar o que realmente é.

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