Assim começa uma reflexão sobre as ambiguidades da relação entre as novas plataformas de distribuição de “conteúdos” e a importância, para as pessoas, do jornalismo local que as conhece (e reconhece). Chegámos a este tema pelo Observatório da Imprensa do Brasil, que o recolhe de um trabalho publicado no Nieman Journalism Lab, da Universidade de Harvard, sob o título genérico das “Previsões para o Jornalismo em 2016”.

Diz David Skok:

“Não penso que estas escolhas são mal-intencionadas. Empresas privadas têm todo o direito de se concentrar sobre aquilo que lhes traga mais lucro, e levar a sua corrente de notícias até à escala local é um desafio enorme e dispendioso. Mas não tenham dúvidas  - trata-se de escolhas. Ao escolherem dar prioridade a histórias de interesse nacional, estas plataformas vão acelerar o declínio do jornalismo local. Em 2016, deveríamos estar conscientes das consequências não intencionais dessa escolha.”

O seguimento do seu texto explica como, numa espécie de arquitectura automática que privilegia o alcance das maiores audiências, até as pequenas fontes locais de notícias acabam por se render à necessidade de cobrir os temas nacionais de interesse geral.  “Isto torna-se uma imperiosa corrida para o fundo, que aumenta a erosão da visibilidade, qualidade e relevância do jornalismo local.”

O mesmo tema fora tratado, com desenvolvimento ainda mais pormenorizado  - e referindo-se, por exemplo, à crise vivida, no interior dos Estados Unidos, não só pelos jornais como pelas estações de televisão locais -  num outro trabalho também publicado pelo NiemanLab, em Setembro do ano findo, e assinado por Joshua Benton, com o título revelador:  “À medida que sobem as plataformas gigantes, as notícias locais são esmagadas”.

David Skok termina com uma referência ao filme Spotlight  - que retrata a experiência recente da que é considerada a mais antiga unidade de jornalistas especializados em reportagem de investigação, precisamente o Spotlight do Boston Globe -  e propõe: “Não vamos celebrar o filme como uma ode àquilo que costumávamos ter no nosso ofício. Em vez disso, vamos usá-lo como um toque de chamada para a importância do jornalismo local na era do Facebook, do Snapchat e do Twitter. No eco-sistema do ‘conteúdo distribuído’, precisamos que as nossas hiper-importantes plataformas de notícias incluam também as nossas hiper-importantes fontes de notícias.” 

O texto do Observatório da Imprensa do Brasil, a que pertencem também as imagens utilizadas.