Os factos são mais antigos; o artigo que citamos designa-os por uma série de termos encadeados  -  "assobios, solicitações verbais, gestos obscenos", ou "o comportamento de homens (caso mais frequente) que interpelam, assobiam ou insultam mulheres (caso mais frequente) na rua". 

Mas a expressão aparece pela primeira vez, na Imprensa francesa, num artigo de Le Figaro, em 2 de Agosto de 2012, e a sua importância cresceu rapidamente; de modo paralelo, no Twitter, o hashtag #harcelementderue conheceu uma popularidade imediata. 

Pouco antes, em 26 de Julho do mesmo ano, a RTBF – Rádio-Televisão Belga Fancófona tinha difundido um documentário de Sophie Peeters intitulado Femme de la rue, sobre situações de assédio a mulheres em Bruxelas. Logo a seguir, a expressão harcèlement de rue "fez uma grande entrada na Imprensa francesa: do Figaro ao Monde, passando por La Voix du Nord e La Nouvelle République, nada menos que 21 artigos a utilizaram no espaço de poucos dias". 

Os arquivos do Twitter datam a aparição do hashtag em 31 de Julho, portanto logo após a difusão do documentário e pouco antes do primeiro artigo impresso; e quatro em cada nove utilizadores(as) identificam-se como "feministas" no seu perfil. A autora deste artigo aponta que o assédio de rua já era teorizado entre as feministas nos EUA, onde se designava por street harassment

Violaine Nicaud descreve, depois, a expansão de harcèlement de rue na Imprensa escrita: pouco expressiva depois do início e durante o ano seguinte, mas crescente a partir de 2014. Uma análise mais fina "mostra que a Imprensa regional parece interessar-se mais pelo fenómeno do ‘assédio de rua’ do que a nacional", por efeito de debates sobre o tema ou mesmo a constituição de associações com o objectivo de sensibilizar para este tipo de assédio  - como a Stop harcèlement de rue

A autora comenta também o progressivo desaparecimento das aspas na apresentação da expressão, que é indicativo "para predizer se um neologismo será solúvel na cultura de um país". O primeiro artigo de Le Figaro, acima mencionado, já fazia eco de um debate entre os utentes do Twitter, opondo pessoas que davam testemunho de situações que tinham a ver com ‘assédio de rua’ a outras "que minimizavam ou negavam o fenómeno". 

A consagração de um neologismo é a sua entrada no dicionário. Em 2015, três anos depois do início da sua difusão, a expressão integra Le Petit Robert, com a seguinte definição: "Acto de abordar alguém com insistência, ou de lhe fazer assédio verbal num espaço público."


O artigo original, na íntegra, no Acrimed, com imagem do twitter StopHarcèlementDeRue