A “Folha de S. Paulo” e o “podcast” da ética perdida…
O jornal “Folha de S. Paulo” lançou, recentemente, um “podcast” de investigação, que passou a estar “nas bocas do mundo”, por ter conseguido captar a atenção de milhares de ouvintes.
Chama-se “A Mulher da Casa Abandonada", e narra a história de uma moradora excêntrica que vive, solitária, numa mansão em escombros, num dos bairros mais ricos de São Paulo.
A publicação de sete episódios do “podcast” não só trouxe à tona uma história rocambolesca como gerou três efeitos: transformou o local onde mora a personagem num ponto de turismo, criou um circo mediático e resultou numa investigação policial.
No entanto, esta produção de Chico Felitti, que se assume enquanto um produto de investigação jornalística, aproxima-se, por vezes, de um programa de entretenimento, que viola as barreiras éticas, considerou Rogério Christofoletti, num artigo publicado no “site” “objETHOS”.
De acordo com Christofoletti, o “podcast” investiga alegados crimes, pelo que pode ser considerado um produto de interesse público, em benefício do qual o jornalista pode justificar a utilização de práticas controversas, tais como a gravação de conversas sem consentimento.
No entanto, as técnicas narrativas e o formato da história d’ “A Mulher da Casa Abandonada" aproximam-na de uma novela, visto que a estrutura é “jocosa”, e insiste num “tom especulativo”, que se apoia “quase exclusivamente” nas “queixas e impressionismos de vizinhos”.
Assim, sublinha Christofoletti, o que era para ser “investigativo” aproxima-se das “fofocas de um bairro privilegiado, que se divide entre problemas de arborização e a convivência com uma moradora estranha”.
Julho 22
Por isso mesmo, o autor convida os jornalistas a reflectirem sobre este tipo de produto noticioso, bem como no papel de “justiceiro” muitas vezes atribuído ao profissional dos “media”.
Isto porque, devido a esta romantização, o jornalista poderá quebrar as barreiras éticas, fazendo com que a sua investigação deixe de ser considerada noticiosa, e passe a ser considerada um produto de entretenimento sensacionalista.
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