O desenvolvimento desta investigação é sério e preocupante. Porque não se trata só de dizer que a própria televisão já foi ultrapassada. Para voltar ao mais recente exemplo, a surpreendente vitória de Donald Trump, ele não foi o único a usar as redes sociais, mas foi único e mais eficaz no modo como as usou:

 

 

“Este ano, todos os candidatos das eleições americanas travaram o seu combate, antes de tudo, nas redes sociais. Hillary Clinton não largou o Twitter, Lindsey Graham entregou-se ao YouTube, Marco Rubio construiu histórias no Snapchat, Ted Cruz veiculou live-streams no Periscope, Bernie Sanders obteve dois milhões de likes no Facebook. Donald Trump foi ubíquo nas redes sociais. Todas. Para exprimir as suas opiniões, nunca precisou de esperar pelo horário nobre dos telejornais. Os momentos importantes da sua campanha foram criados no Twitter, em mensagens curtas e provocatórias reproduzidas depois pelos outros media, incluindo a Imprensa e a televisão.”

 

Para João Tocha, director-geral da consultora de comunicação F5C  - que Paulo Moura cita no seu artigo -  o que foi viral na campanha do candidato republicano foi a disseminação das suas mensagens nos media tradicionais, empurrado pela lógica da própria televisão e da imprensa:

 "A exposição que foi dada ao candidato por jornalistas que não resistiram ao seu lado anedótico, chocante, incrível e escandaloso, essa, sim, foi exagerada e descontrolada, e ninguém a planeou."

Quanto à campanha das redes sociais, foi calculada milimetricamente, pelos melhores profissionais:

“Os três factores da vitória de Trump foram estes: primeiro, conseguiu pôr os media tradicionais a falar sobre ele; segundo, teve a capacidade de falar de forma directa com as pessoas; terceiro, e isto é que é completamente novo, utilizou robôs em massa, que criaram e enviaram para os destinatários certos milhões de mensagens. Isto nunca tinha sido feito. A novidade é a escala. Nunca tinha sido utilizada artilharia de fogo desta maneira.” (...)

 

O trabalho de Paulo Moura, que resulta num extenso ensaio sobre a capacidade de influência destes algoritmos invisíveis, chama a nossa atenção para coisas que já estão presentes nas nossas vidas, não só pelo lado político, e de cujos efeitos nem sempre nos temos apercebido.

 

“João Tocha sabe do que está a falar, porque ele próprio tem usado estes métodos no seu trabalho com políticos: ‘Na área económica, isto já é aplicado há anos. Na política, está a começar. Qualquer supermercado faz isto. Qualquer agência de viagens compra dados ao Google sobre os seus potenciais clientes.’ O segredo é, portanto, conhecer ao pormenor as características de cada grupo de eleitores e enviar-lhes mensagens personalizadas.”

 

Fica também um aviso para o futuro próximo, nos dois sentidos do termo, o do tempo e o do nosso espaço português:

 

“Fenómenos como Berlusconi em Itália, ou o nosso Marcelo Rebelo de Sousa, que construíram uma imagem através da televisão, talvez não sejam mais possíveis. Luís Marques Mendes está a tentar percorrer o mesmo caminho, mas quem sabe o que será a televisão daqui a nove anos (nas próximas presidenciais)?” (...)

 

 

 

Ler o trabalho de Paulo Moura, na íntegra, no Público online, de onde colhemos a imagem utilizada