Esta reflexão parte de um pequeno texto de chamada no Observatório da Imprensa do Brasil, que começa por este lado, mas logo remete para um extenso trabalho publicado na revista do Instituto Smithsonian, sobre a história, as polémicas e a variedade de opiniões sobre o valor (positivo ou negativo) das secções regulares de horóscopo pessoal, mesmo em jornais de referência.

Diz a autora, Roxana Tabakman:  “A experiência de muitas crises indica que há apenas uma única secção dos jornais e revistas que resiste à diminuição nas vendas, não conhece as consequências do aumento no preço do papel ou a perda de anunciantes. Os que a escrevem nunca são demitidos, aliás estão proibidos de tirar férias sem deixar o serviço pronto. Trata-se dos horóscopos, intrusos nos produtos destinados a divulgar notícias, que inexplicavelmente constituem uma parte essencial de muitos jornais e revistas.”

É essa história que o estudo da revista do Smithsonian, assinado por Linda McRobbie, foi pesquisar, descobrindo um século de  “genealogia” dos horóscopos publicados em jornais  - a começar num astrólogo britânico chamado Naylor, por sua vez assistente de uma espécie de “vidente” da alta-sociedade do tempo, William Warner, que teria lido as palmas das mãos de Mark Twain, Grover Cleveland e... sim, Winston Churchill também.

Mas foi Naylor o primeiro a escrever para o Sunday Express, em Agosto de 1930, um horóscopo respeitoso e ambíguo sobre a vida, que tinha começado no dia 24 desse mês, da Princesa Margarida. O texto ia ao ponto de prever que “ocorreriam acontecimentos de enorme importância para a Família Real e a Nação, por volta do seu sétimo ano”, o que soou como profecia cumprida quando o seu tio, o Rei Eduardo VIII, abdicou em favor do seu pai.

Mas não aparecem só reis e rainhas nestas coisas, também republicanos:  o trabalho do Smithsonian lembra que “mesmo o respeitável  New York Times  não estava acima de fazer consultas às estrelas: em 1908, um titulo declarava que o Presidente Theodore Roosevelt, um Sagitário, ‘podia ter sido diferente se ele tivesse outra data de nascimento’, citando as palavras da astróloga Mme. Humphrey”.

Voltando ao Sunday Express, a partir de 1937, a coluna semanal de Naylor, chamada “What the Stars Foretell” (O que Predizem as Estrelas) passou a usar o zodíaco como hoje o conhecemos, com uma constelação dominante. A astrologia publicada em jornais tornou-se “popular”, nos bons e maus sentidos do termo, houve astrólogos a lamentar a queda de qualidade, o arrivismo e a “tabloidização”  de uma arte “antiga e nobre”... 

Passando agora à sociologia: nos Estados Unidos, “um inquérito da National Science Foundation, de 1999, verificou que 12% dos norte-americanos liam o seu horóscopo todos os dias ou quase, e 32% o faziam ocasionalmente; mais recentemente, a Federação Americana de Astrólogos pôs o número de norte-americanos que lêem o seu horóscopo todos os dias nos 70 milhões, quase 23% da população”.  

Comparando com outras “fés”: segundo uma sondagem da Harris, de 2009, “26% dos norte-americanos acreditam na astrologia, o que é superior ao número dos que acreditam em bruxas (23%), mas abaixo dos que acreditam nos OVNIS (32%), no Criacionismo (40%) e nos fantasmas (42%); mas o respeito pela astrologia pode estar a subir: um inquérito ainda mais recente da National Science Foundation, de 2014, verificou que menos norte-americanos rejeitavam a astrologia como “não científica” em 2012 do que em 2010  -  55% comparados com 62%. Este número não estava tão baixo desde 1983”.

O texto passa depois pelos terrenos do debate entre a astronomia científica e a astrologia como chave para solução de problemas pessoais, ou fonte de esperança para melhorias de situação, e cita o psicólogo Christopher French, da Universidade de Londres, estudioso destas matérias:

“Quando se adere ao sistema e à crença, acaba-se a fazer com que a leitura se mostre mais específica do que ela é realmente. Para a maior parte das pessoas, a maior parte dos dias é uma mistura de coisas boas e coisas más e, dependendo da forma como se adere ao sistema, se nos disserem para contar com uma coisa boa neste dia, então qualquer coisa boa que aconteça é vista como confirmação.”

Margaret Hamilton, psicóloga na Universidade de Wisconsin, diz que “os horóscopos dos jornais fornecem um pouco de conforto, uma espécie de visão através da cortina, num nível de imprevisto”. Christopher French está de acordo: a astrologia e os horóscopos dos jornais podem dar às pessoas “uma espécie de sensação de controlo e um tipo de enquadramento que as ajude a perceberem o que está a acontecer nas suas vidas.”

“É revelador que em tempos de incerteza, seja a um nível global, nacional ou pessoal, astrólogos, videntes e outros que pretendam ser capazes de oferecer orientação, façam muito bom negócio. E que a crença na astrologia esteja, aparentemente, a crescer nos Estados Unidos, segundo esse inquérito da NSF publicado em 2014, pode ter alguma coisa a ver com a recente incerteza financeira.”

Mais informação no estudo do Smithsonian Institute: