“Mas o grande conflito ganhou relevo quando foi colocado em xeque o papel como suporte de produtos editoriais. De repente, o papel era o inferno, traduzia literalmente a ideia de velhos media. O papel é analógico, é nada mais velho que suportes analógicos.
O surgimento da ‘impressão’ virtual, na extensão PDF, metaforizava e substituia o papel como suporte. Agora podíamos ‘imprimir’ sem enviar o documento para nenhum suporte analógico.” 

“A tecnologia encerrava-se em si mesma. Não à toa, PDF é a sigla de Portable Document Format (documento em formato portátil) que consolida num documento todos os elementos de um layout (texto, desenhos, cores, fotografias, gráficos) imitando um documento impresso. (...) A palavra ‘documento’ era chave. A ideia tradicional de documento como algo analógico estava em xeque.” 

Como recorda o autor, em 1995 Bill Gates lança o livro The road ahead e ataca visceralmente o conceito tradicional de documento como algo estritamente analógico: “Quando você pensa num ‘documento’, provavelmente visualiza pedaços de papel com alguma coisa impressa neles, mas essa definição é limitada.” (...) 

“Até então, ninguém imaginava que uma gigantesca bola de neve iria se formar projetando-se rumo ao jornal impresso em papel. (...) Gates vaticinava que a Internet seria o novo mediador nas relações de compra e venda”: 

“A estrada proporcionará maneiras alternativas e mais eficientes para que vendedores e compradores individuais se encontrem.” 

Na realidade, e como sabemos, desviou o caudal da receita publicitária que sustentava os media tradicionais. 

“Uma alternativa era compensar a perda cobrando pelo acesso ao conteúdo na distribuição via Internet. Faltava combinar com o internauta. A reacção — tardia para alguns — foi tentar se apropriar dessa nova tecnologia, uma estrada desconhecida e volátil onde a informação parecia jorrar gratuitamente, como uma nascente brota ao sopé de uma duna.” (...) 

É neste ponto que Luis Sérgio Santos coloca a “crise de identidade e a perda da consciência da natureza do jornal impresso”, falando do que sucedeu no Brasil: 

“A plasticidade dos jornais standard tem mudado repetidamente. O intervalo de redesenho dos jornais tem diminuído num auto atestado — potencialmente inseguro — de obsolescência. Mudanças drásticas vão numa única direção, a tentativa de assemelhar o desenho dos jornais aos ambientes digitais.” 

“Há uma ênfase nos espaços negativos, o uso dos brancos. Há uma quebra no paradigma do eyetrack da página impressa. A manchete, sempre nas margens externas das páginas, agora migra para as margens internas, como nas webpages. Os desenhos ficam cada vez mais ‘revistizados’, fotos estouradas, sangradas, ao modo de tablóides sensacionalistas.” 

E depois de uma breve referência aos clássicos “jornais de prestígio” dos EUA, e aos “jornalões alemães”, cuja apresentação “conservadora” parece escapar à referida “crise de identidade”, o autor conclui: 

“De qualquer modo, a tentação ‘minimalista’ é só mais um capítulo na busca de uma luz no fim do túnel, enquanto luz houver.”

 

O artigo citado, na íntegra no Observatório da Imprensa do Brasil