O texto parte da distinção estabelecida por Walter Lippmann, no início do século passado, entre notícia e verdade, sendo função da primeira “sinalizar um evento”, e função da verdade “trazer luz para factos ocultos, relacioná-los a outros, e traçar um retrato da realidade a partir do qual os homens possam actuar”.

Mas o editorial que citamos procura uma definição mais modesta da função do jornalismo:

“Essa história de ‘iluminar’ factos ocultos é bastante problemática. Até para os iluministas, aos quais devemos as ideias fundadoras da Imprensa, já era muito complicado.Quando muito, o jornalismo pode pretender estimular um ambiente de debate público em que os factos de interesse geral fiquem mais acessíveis à inteligência dos cidadãos. Se registar os factos, apenas isso, ‘com tudo que é insolvente e provisório’ (na síntese pouco jornalística de Carlos Penna Filho), já terá prestado um excelente serviço à sociedade.” (...) 

Reconhece, então, que o tema desta edição não tem nada a ver com ‘a verdade’, nesse sentido mais profundo do termo, “mas apenas com a ‘pós-verdade’, ou, pior, com a ressaca dessa overdose de ‘pós-verdade’ que nos entorpece há alguns anos”. (...) 

Este clima que nos constrange é assim definido:

“Estaríamos vivendo uma era em que os factos deixaram de lastrear as condutas e as acções humanas. Se isso for mesmo verdade, quer dizer, se o pós-facto é mesmo um facto, a política deixa de ser política  – vira uma obra coletiva de ficção, num grau superior ao que pudemos testemunhar em eras anteriores.” (...) 

A sua conclusão provisória é que, “para dizer a verdade, a civilização não anda bem, ainda que esta revista ainda esteja aqui, no front.” (...)

 

O editorial citado, na íntegra, no Observatório da Imprensa, e a notícia da parceria com a Revista Brasileira de Jornalismo da ESPM, a edição brasileira da Columbia Journalism Review

Ilustração retirada do site Gurupi - Atualidades