Polémica em França sobre a difamação do jornalismo
O parágrafo citado - de um blog que é acessível pelo link incluído no artigo de Le Monde - inclui:
“Se o ódio dos [aos] media e daqueles que os animam é justo e são, não deve impedir-nos de reflectir e de pensar a nossa relação com eles como uma questão que deve ser tratada racionalmente nos termos de um combate. A cada ataque, a sua réplica particular. Muitos amigos não compreenderam ainda que não temos outro adversário concreto senão o ‘partido mediático’. Só ele lança batalha no terreno, inoculando todos os dias droga nos cérebros.” (...)
[Em francês, la haine de pode significar “o ódio proveniente de” ou “o ódio contra”, consoante o contexto concreto. No caso destas frases do blog referido, que deve ser lido na íntegra, tem claramente o segundo sentido.]
Na sua resposta à polémica, Thomas Guénolé contesta a acusação dos RSF, afirmando que a frase inicial singifica, em resumo:
“É legítimo sentir-se furioso pelos media, mas é preciso combatê-los de modo reflectido e politicamente. É um apelo ao combate político calmo.”
Acrescentou que o adversário de LFI é “o sistema mediático” e não “os jornalistas no seu conjunto”. “Estamos do seu lado” – conclui.
O jornal Le Monde prossegue incluindo este episódio numa série de outros casos:
“Esta declaração inscreve-se numa série de tiradas hostis aos jornalistas. Já em 2010 este reponsável político qualificava um estudante de jornalismo que viera entrevistá-lo, entre as duas voltas das eleições regionais, de ‘cérebro pequeno’ ao serviço de um ‘ofício apodrecido’, de uma ‘suja corporação voyeuriste e vendedora de papel’.” (...)
“Longe de ser fruto do acaso ou de uma aversão pessoal contra a corporação jornalística, a posição anti-media de Mélenchon resulta de uma estratégia política. ‘Consideramos que os media não são o reflexo da realidade, que são a segunda pele do sistema’ - dizia em 2013, ao Monde, François Delapierre, o falecido braço-direito de Jean-Luc Mélenchon.” (...)
Le Monde cita ainda a historiadora belga Marie Peltier, que publicou um livro “sobre a postura anti-sistema e anti-media adoptada por La France Insoumise”:
“Este ódio não vem do nada” - afirma. “Vem do imaginário anti-sistema sobre o qual é construída toda a estratégia de La France Insoumise. É um imaginário antigo, que tem sempre um duplo alvo: os representantes políticos e os media.” (...) "Pode fazer-se o paralelo com Trump, que utilizou muito a tecla primária anti-media insultando os jornalistas, e que foi assim eleito." (...)
O artigo citado, na íntegra, em Le Monde, e o blog nele referido