Município de Lisboa atribui a Mário Zambujal Medalha de Mérito Cultural
No jornalismo começou pela Bola, logo a seguir o Diário de Lisboa. Dotado de gosto pela mudança e grande capacidade de adaptação a novos desafios, foi Chefe de Redacção de O Século, Diário de Notícias e O Jornal, Director-Interino do Tal e Qual e Sub-Director do Record. Esteve vinte anos na RTP, em diversas funções, e deixou também o seu nome ligado a vários programas radiofónicos.
Quanto ao modo como lembra o jornalismo dos anos 60 e 70, em comparação com o de hoje, vale a pena recordar alguns parágrafos de uma entrevista sua, publicada na Revista Única do Expresso, em Dezembro de 2009:
Trabalhou em muitos jornais sediados no Bairro Alto. Os bares eram uma extensão das redacções... Esse convívio entre jornalistas acabou?
Hoje, a vida está muito diferente e as pessoas mais dispersas. Quando era chefe de redacção de O Século, de 70 a 75, havia pessoas que no dia da folga iam para o jornal. Era ali que se sentiam bem. Verdade se diga que a maioria não tinha carro, segunda casa, planos para o dia de folga, não tinham coisas que hoje são naturais. Actualmente, as pessoas estão muito mais afastadas e muito mais agarradas às máquinas. Não sou inimigo das máquinas, como daquelas que ajudam a ciência médica ou fazem grandes obras de engenharia. Mas há máquinas que são abomináveis.
O computador também afastou as pessoas?
No meu tempo havia o barulho das máquinas de escrever e o sussurrar das pessoas, eram música para mim. Os colegas falavam uns com os outros, tiravam dúvidas. Hoje vão ao Google e está lá tudo. Essa desumanização incomoda-me. (...)
Quando actualmente vai a uma redacção, sente muitas diferenças?
As pessoas estão com um ar tão concentrado a olhar para a máquina que tenho medo de incomodar, de interromper algum pensamento. Passam o dia com o seu interlocutor, mas na minha opinião estão muito sozinhas.
É crítico do jornalismo que hoje se faz?
Hoje impera o grafismo. No meu tempo, as notícias estavam na primeira página pela importância. Agora, as primeiras páginas são altamente comerciais, são montras. Vivemos numa época marcadamente comercial. Os jornais reflectem muito isso. (...)
Mário Zambujal é actualmente Presidente do Clube de Jornalistas, dedicando à escrita ficcional boa parte da sua actividade enquanto escritor.