Mudar o modelo de negócio e de financiamento é o grande desafio para o Sindicato dos Jornalistas
A comunicação social é um pilar da democracia. A liberdade de informar e de ser informado é um direito fundamental de qualquer estado democrático, por isso o jornalismo deve ser livre, de qualidade e bem pago. Com as condições de trabalho que existem atualmente, a qualidade da informação não pode melhorar, uma vez que há menos pessoas para o mesmo trabalho, reconhece Ana Luisa Rodrigues.
A presidente do SJ considera que há riscos de se perder esse direito, do qual não se pode desistir. Deve apostar-se, como refere, todos os dias, num jornalismo “que pense, que vá além do óbvio, que não seja um mero repetir das notícias em todos os lados. É fundamental achar que não só é possível como é necessário levantarmo-nos contra este estado de coisas, e tem que ser uma convicção de que não podemos abrir mão. Nesta voragem informativa do ambiente digital, o trabalho jornalístico de contextualização é cada vez mais necessário”.
Sobre a contradição a que se assiste - numa altura em que há mais informação a circular e menos jornalistas a trabalhar - Ana Luisa Rodrigues considera que este é “um grande desafio”, e que ”é necessário alterar o modelo de negócio e de financiamento. É necessário ver o jornalismo como um negócio diferente dos outros. As empresas de comunicação social têm uma responsabilidade social que outras empresas não terão. A redução de jornalistas e de redacções afecta também a democracia”.
Ao abordar o tema do financiamento, a presidente do SJ entende que devem ser avaliadas todas as formas possíveis de apoio, e estudados diferentes modelos de negócio. Com esse objetivo, entre outros, o sindicato vai organizar um congresso no final deste ano, para discutir o tema. Não é excluída a possibilidade de uma subvenção estatal a empresas de jornalismo, nem, eventualmente, o mecenato. “A subvenção estatal não pode ser um tema tabu”, afirma.
Na mesma entrevista, Ana Luisa Rodrigues observa que: “É preciso que o jornalismo não seja comido pelo pragmatismo e pela voragem da informação que se repete e que se mantenha alguma visão romântica a par de uma dose de realismo (…) Recusamo-nos a pensar que ter esta visão do jornalismo é fora de moda, utópica”.