Foram vários os repórteres brasileiros que se “chegaram à frente” para denunciarem casos de coação da liberdade de informação.  Helena Bertho, da “Revista AzMina”, uma publicação independente que cobre questões de género explicou, por exemplo, que a reacção da ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, a uma reportagem motivou uma série de ataques virtuais à redacção. A reportagem daquela revista foi classificada como “apologia ao crime” pela ministra.

 “O simples facto de um ministério do governo federal ter-se dado ao trabalho de fazer esta denúncia, quando qualquer advogado poderia concluir que não havia crime, assusta-nos. Mostra que o que está em jogo não é a lei em si, mas sim uma ameaça velada aos media que divulgam informações contrárias à ideologia do governo”, disse Bertho durante o evento.

De acordo com a jornalista Renata Mielli esses ataques contribuem para fortalecer estratégias de desinformação utilizadas por integrantes do governo, ferindo o direito da população em aceder a informações sobre o Estado brasileiro e políticas públicas.



Já Edison Lanza, especializado em questões de liberdade de expressão, pediu explicações sobre a retórica de membros do governo contra a imprensa de forma geral e em particular.

“A política de protecção não está completa, ou não é completamente eficaz, e não está acompanhada de uma política de prevenção. E a política de prevenção precisa do reconhecimento público do trabalho de jornalistas. (...) Não existe uma política de protecção efectiva se se diz de maneira permanente e sistemática que a imprensa é corrupta”.


Os funcionários do governo presentes na audiência representavam, entre vários ministérios, os da Mulher, Família e Direitos Humanos, da Justiça e Segurança Pública, e das Relações Exteriores, além da Empresa Brasil de Comunicação. Nas suas intervenções, aqueles representantes reafirmaram o compromisso do Estado com a liberdade de expressão e com a protecção de jornalistas ameaçados. 

“O governo federal não censura. O Presidente expressa divergências com a imprensa, mas estas divergências fazem parte do jogo democrático. Nós reafirmamos o nosso compromisso com a liberdade de expressão e de imprensa. A imprensa faz todas as críticas, todos os ataques que acha pertinentes e não há nenhuma iniciativa de censura por parte do governo,” afirmou o secretário de Protecção Global do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Perante os casos ouvidos o presidente da CIDH-OEA , Joel Hernandéz Garcia, limitou-se a classificar a situação como “inusitada” e afirmou ter a certeza de que “ oEstado e a sociedade brasileiros valorizam a liberdade de expressão como base da sua democracia”. Tampouco lhe ficou a menor dúvida de que “ no Brasil há uma sólida instituição democrática para salvaguardar este direito”.

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