Luís Marinho denuncia conflitos de interesses na RTP
Depois de 15 anos seguidos de trabalho na RTP, onde foi também administrador e director-geral, Luís Marinho declara, numa longa entrevista ao jornal i online, que a administração actual fez “um corte radical” com a estratégia definida até 2015 e “passou a olhar para o serviço público como um serviço de minorias, alternativo e que faz aquilo que os outros não querem ou não lhes apetece, ou até mesmo, não podem fazer; isto não é serviço público”. (...)
“Dediquei 15 anos inteiramente à empresa, desenvolvi trabalho que se viu e que penso que é reconhecido, penso que tenho uma palavra a dizer. E a palavra a dizer é que, a seguir este rumo, a empresa de serviço público de televisão vai desaparecer.”
Luís Marinho critica a proliferação de directores, subdirectores, “directores de directores” e de “uma série de indivíduos que são apresentados como consultores e que na prática são directores”. Critica a falta de transparência e de independência do Conselho Geral, que considera um modelo ultrapassado, copiado da BBC “quando a BBC já tinha acabado com isso”. (...)
“Há situações que não entendo: como uma empresa com a dimensão, com a história e com as responsabilidades que a RTP tem, está entregue a pessoas sem o mínimo de condições para governar aquela empresa.”
Em resposta à pergunta sobre “a situação de um administrador ter um canal por cabo e ser dono de uma produtora, e o director de programas ter também uma produtora e contratarem produtos para a RTP dessas mesmas empresas”, Luís Marinho afirma:
“Eticamente é absolutamente reprovável. (...) Como também é reprovável contratarem guionistas e apresentadores dos seus canais e das suas produtoras. E ainda não estou a pôr aqui nenhuma questão legal, por enquanto.” (...)
E perto de concluir, em termos de balanço, diz ainda:
“Ao longo destes anos cometemos tantos erros. Tenho 35 anos de jornalismo e 20 e tal deles em cargos de direcção, é evidente que me enganei muitas vezes. Mas, fazendo o balanço, posso-me orgulhar do trabalho em que participei. Não gosto de dizer que fiz, nunca fazemos sozinhos, estamos sempre integrados numa equipa.”
A entrevista, na íntegra, no i online, cuja imagem, por João Porfírio, reproduzimos