O autor começa por nos aconselhar a leitura do livro “fundador” da expressão “pós-facto”: True Enough: Learning to Live in a Post-Fact Society, do sociólogo e jornalista Farhad Manjoo.

Recordando que a mentira deliberada sempre existiu, Lins da Silva pergunta: 

“O que diferencia o que existe hoje do que houve no passado? A velocidade, a simplicidade e o baixo custo para produzir e disseminar falsidades com capacidade de proliferação muito rápida e abrangência geográfica imensa. Mais importante: o não facto é agora divulgado sem nenhum tipo de constrangimento, até por pessoas que ocupam altos postos na hierarquia de poder, a começar por chefes de governo e de Estado.” 

“Não que líderes no passado não tivessem mentido. Ao contrário. Provavelmente todo líder político sempre mentiu, quase por definição. Faz parte da política mentir, ocultar factos, exagerar. A política sempre foi assim e sempre será. É impossível fazer política sendo absolutamente fiel aos factos. A diferença é que antes isso se fazia dissimuladamente e quem mentia negava mentir. Agora, é despudorado.” (...) 

Isto faz parte, como diz o autor, de um “descrédito generalizado” que atinge praticamente todas as intituições que eram consideradas fontes de saber: 

“A pós-verdade vem no esteio do descrédito generalizado em relação à Imprensa. Não há dúvida de que no mundo inteiro a profissão sofre um processo gradativo de perda de credibilidade, e os jornalistas têm parcela de responsabilidade por isso. E não foi só o jornalismo que perdeu credibilidade com o ambiente da Internet. Várias outras instituições seculares também têm sido colocadas em xeque: sindicatos, igrejas, escolas, universidades, empresas, Legislativo, bancos, hotéis, Justiça, publicidade, institutos de pesquisa, a medicina.” (...) 

Mesmo a aprovação de leis reprimindo a mentira pode tornar-se inútil, ou contraproducente, como conclui: 

“O desafio é enorme, mas a nossa única saída é profissionalismo. Se nós não formos profissionais, nós não temos escapatória, não vai ser pelas mãos do governo ou por novas leis que vamos sair dessa enrascada.” 

 

O artigo na íntegra, no Observatório da Imprensa