Liberdade de opinião ameaçada pela “lei da selva”
“Não estou a pôr ao mesmo nível as democracias e os regimes autoritários ou ditatoriais” - esclarece Christophe Deloire. “Não há comparação possível entre o que se passa em França, ou no Reino Unido e, pelo outro lado, na Turquia ou na China. Mas, além de evoluções perigosas, na Polónia ou na Hungria, estamos agora a observar uma hostilidade crescente contra os jornalistas, muitas vezes alimentada pelos políticos, que já leva à passagem ao acto: têm sido assassinados jornalistas de investigação em território europeu.” (...)
“Estamos a trabalhar sobre estes três tipos de perigos: sobre a segurança dos jornalistas, sobre as questões da independência editorial, no quadro das concentrações verticais [de empresas] e, em terceiro lugar, sobre as regras do jogo a nível global.”
“O jornalismo de qualidade está hoje em concorrência com a informação patrocinada, a propaganda e os boatos. Sofre também, por este lado, de uma forma de desvantagem concorrencial. A questão é saber como se sai desta lei da selva.”
No terreno do estabelecimento de garantias sobre informação e democracia, tendo em conta a realidade do espaço digital a nível global, o entrevistado cita a “Declaração sobre a Informação e a Democracia”, subscrita por doze países democráticos, por proposta dos Repórteres sem Fronteiras, em Novembro de 2018, por ocasião do Fórum de Paris sobre a Paz.
O texto foi editado por uma comissão integrando personalidades de todos os países, incluindo Prémios Nobel, especialistas informáticos e jornalistas hostilizados por regimes autoritários.
“Está previsto que a nossa iniciativa conste da agenda da próxima cimeira do G7, em Agosto, em Biarritz. Não devemos deixar plenos poderes nem às plataformas digitais nem aos governos totalitários, mesmo que não esteja aqui a compará-los.”
“É crucial evitar o reforço das lógicas de polarização. Os nossos projectos não são dirigidos contra ninguém, contra a Rússia, ou contra os gilets jaunes, os populistas, etc. Propomos princípios que podem ser unanimemente reconhecidos como positivos.” (...)
“Criamos um mecanismo para valorizar a produção de meios de comunicação que apresentem garantias em matéria de independência editorial, de aplicação de métodos jornalísticos, de respeito pelas regras deontológicas e de transparência, nomeadamente sobre a propriedade.”
A entrevista aqui citada, na íntegra em Le Monde