Lei contra “notícias falsas” suscita dúvidas em França

Assim, Nathalie Mallet-Pujol, jurista especializada no Direito da Imprensa e da Internet, propõe antes o exercício de uma autoridade administrativa independente, como a da Comissão Nacional de Informática e das Liberdades (CNIL) ou a do Conselho Superior do Audiovisual (CSA); e refere-se às penas acessórias, por exemplo a da obrigatória retirada da informação considerada falsa, como podendo revelar-se inoperante na Internet.
Para o especialista em informática Vincent Claveau, a lei pode tornar-se mais “simbólica” do que eficaz, já que as falsas informações se propagam muito mais rapidamente do que as verdadeiras, e os mecanismos de manipulação de conteúdos, mesmo de vídeo, são hoje muito utilizados.
Por seu lado, o economista Emeric Henry cham a atenção para o que se pretende de facto corrigir, sabendo que a propagação de boatos ou falsas informações pode ser desencadeada por um simples like, ou retweet... E a socióloga Francesca Musiani inquieta-se pelo facto de as próprias plataformas Facebook e Google estarem mais prontas do que os poderes públicos a agir contra a exploração do seu espaço para fins malévolos: “A privatização da regulação dos conteúdos online é uma das questões maiores da governação da Internet.” (...)
Finalmente, tem um governo mais legitimidade para decidir entre o que é verdadeiro e o que é falso? Jean-Claude Monod, filósofo no CNRS e especlista na questão da “pós-verdade”, sublinha os riscos de deriva antidemocrática inerentes a este projecto de lei.
“Citando Annah Arendt, Jean-Claude Monod recorda que a vida política não se alimenta exclusivamente de enunciados verificáveis, e ainda menos, numa sociedade aberta, de enunciados compatíveis entre si.” (...)
O artigo citado, na íntegra, em Le Monde