Jornalismo vive num “buraco negro” no Sahara Ocidental
A apresentação do relatório, intitulado “Sahara Ocidental, um deserto para o jornalismo”, decorreu na sede da APM – Asociación de la Prensa de Madrid, com a qual mantemos um acordo de parceria.
O trabalho faz uma recolha de numerosas entrevistas e testemunhos pessoais que retratam a história de abandono e silêncio, pelos media internacionais, “especialmente os espanhóis”, deste conflito continuado.
A sua autora, e correspondente dos RSF em Espanha, Edith R. Cachera, comentou que o Sahara se tornou “um tema de natureza humanitária, nos meios de comunicação, quando há um conflito político que não pode ser esquecido”, sublinhando neste ponto que “a Imprensa espanhola tem uma responsabilidade importante”.
Mas, além dos media e de Marrocos, criticou também a Frente Polisario, que, como “emissor de informação - muitas vezes ideologizada, repetitiva ou monolítica - também tem responsabilidade neste silêncio sobre o Sahara”. Quanto aos poucos jornalistas que se atrevem, são “sistematicamente oprimidos, presos, maltratados, torturados, humilhados, perseguidos, acossados, assediados, difamados e caluniados”.
Presentemente, como contou Edith Cachera, há seis jornalistas detidos, “quatro deles condenados a penas entre os vinte anos e a prisão perpétua, em condições insalubres”, por exercerem a profissão.
Durante a sessão, falaram ainda Alfonso Armada, o presidente da secção espanhola dos Repórteres sem Fronteiras, e Nemesio Rodríguez, presidente da FAPE - Federación de Asociaciones de Periodistas de España.
Marrocos encontra-se no 135º lugar dos 180 países ou territórios avaliados pela Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa dos RSF, devendo-se esta classificação, em parte, à “mão de ferro que aplica aos jornalistas dos territórios considerados ‘irritantes’, como o Rif e o Sahara Ocidental”, onde só existem delegações da rádio e televisão pública de Marrocos e diários digitais de linha oficial. (...)
Como acrescentou o jornalista saharaui Ahmed Ettanji, não estão presentes no território agências de Imprensa, e qualquer observador ou informador que tente entrar é expulso. Desde Janeiro deste ano já houve 25 expulsões - afirmou.