Jornalismo em 4G, mas à custa de quê?
Esta história vem no Observatório da Imprensa do Brasil, que por sua vez a cita do jornal Página 12, de Buenos Aires. O texto original é assinado por Damián Loreti e Diego de Charras, docentes e investigadores de Direito à Informação da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.
A partir daquele anúncio, eles explicam como esta convergência de recolha de som e imagem, reportagem, redacção de texto, edição e difusão “leva a uma super-exploração do profissional do jornalismo, que é obrigado a exercer várias funções simultaneamente e sem uma remuneração à altura do trabalho executado.”
Concretamente, e citando o trabalho dos dois investigadores argentinos:
“Se restasse alguma dúvida, o que estamos a dizer é que numa peça de publicidade se faz a apologia da precarização do trabalho jornalístico, já que se legitima a ausência dos outros trabalhadores, como ‘desnecessários’. Mesmo assim, alguém desprevenido que leia estas linhas pode interrogar-se com todo o direito: mas estas coisas acontecem na realidade? Ou trata-se apenas de um anúncio de telemóveis?”
“Em muitos casos, a concentração multimédia leva a que um trabalhador de Imprensa faça informação ou cobertura para vários meios (rádio, televisão e Internet) sem receber a remuneração nem o enquadramento profissional ao nível da exigência patronal. Isto costuma vir acompanhado do despedimento de muitos outros colegas. É a mesma concentração da propriedade dos meios que impede que o jornalista mude de empresa se não concorda com as condições, porque não encontraria outros potenciais empregadores. E isto não é exclusivo da Argentina, trata-se de um tema de interesse público que está presente em toda a região.”
O assunto já foi objecto de denúncia pela Federação Internacional de Jornalistas, num encontro sobre “Meios de Comunicação e Democracia”, realizado em Santiago do Chile, onde se contaram histórias semelhantes ocorridas na Costa Rica e no Paraguay.
A imagem é a caricatura de um jornalista multimedia, utilizada pela Newspaper Association of America numa campanha (mal sucedida) em defesa dos jornais impressos.
Ver o trabalho dos dois investigadores argentinos aqui:
Outro texto sobre os limites do jornalismo multimedia, aqui: